Para entender, identifique os símbolos.(
Carla Caruso)
"Ler significa aproximar-se de algo que acaba de ganhar existência."
(Italo Calvino - escritor italiano)
Um mapa aberto. A mão estendida para a cartomante. Os búzios na terra. Pegadas na areia. Um pescador olha para o céu e sabe se vai chover. Um biólogo segue os rastros de uma onça pela floresta. Muros escritos da cidade. A linguagem das mãos dos surdos-mudos. O rosto do outro. Os sonhos estranhos. As placas na estrada.
Livros abertos: uma menina deitada no chão vê imagens coloridas. Um homem lê um romance. Uma mulher está atenta às notícias do dia, num jornal. Leituras.
Vivemos num mundo imerso em sinais que fatalmente vemos e precisamos olhar, ler, decifrar. Talvez tão naturalmente quanto respiramos, desenvolvemos a capacidade de ler continuamente as coisas que nos cercam. Lemos para nos entender, para entender os outros e o universo de que fazemos parte. Desde bebês, já estamos atentos às linguagens que nos circundam: os cheiros, os barulhos, as vozes da mãe, do pai, os toques: carícias ou palmadas.
Oralidade e escrita
À medida que crescemos, lançamo-nos às aventuras dos sons articulados, do falar, da língua. Logo passamos a desenhar, a começar a delinear formas na página branca do papel. Começamos a reconhecer letras, sílabas, textos: a escrita abre novas possibilidades para a linguagem que, oralmente, já conquistamos. Depois de aprender a decifrar os textos, estaremos lendo o tempo todo - para sempre. Qualquer palavra que surja a nossa frente é imediatamente decodificada.
Descobrir e decifrar
O ato de ler implica descobrir e conhecer o mundo. Com ele, desenvolvemos o tempo todo um processo de atribuir sentido às coisas. Pense nos inúmeros textos que você encontra em seu dia-a-dia, enquanto está caminhando em uma avenida, por exemplo: pichações nos muros, outdoors, nomes de ruas nas placas das esquinas, anúncios de lojas, letreiros de edifícios, números das casas, sem falar na banca de jornal, repleta de imagens e manchetes. Na verdade, quase sem perceber, você está caminhando por um universo de signos, símbolos, ou, ainda, de sinais.
O sentido das coisas nos vem principalmente por meio do olhar, da leitura: da compreensão e da interpretação desses múltiplos signos que enxergamos, desde os mais corriqueiros, como os nomes de ruas, até os mais complexos, como um poema, com metáforas e imagens - cujo sentido, muitas vezes, demoramos para decifrar.
No poema que segue, de Paulo Leminski, percebe-se o quanto é essencial para o ser humano a atribuição de significados, tanto para os mistérios do nosso mundo interior, quanto para as coisas e fenômenos do mundo exterior a nós:
Buscando o sentido
O sentido, acho, é a entidade mais misteriosa do universo. Relação, não coisa, entre a consciência, a vivência e as coisas e os eventos. O sentido dos gestos. O sentido dos produtos. O sentido do ato de existir. Me recuso a viver num mundo sem sentido. Estes anseios/ensaios são incursões conceituais em busca do sentido. Pois isso é próprio da natureza do sentido: ele não existe nas coisas, tem que ser buscado, numa busca que é sua própria fundação. Só buscar o sentido faz, realmente, sentido. Tirando isso, não tem sentido.
Interpretar um texto, então, é tarefa com a qual você já está habituado: da mesma maneira que você identifica na cozinha um estrondo de metais como o sinal de que sua mãe deixou cair as panelas no chão, identifique os símbolos do texto e tente relacioná-los com fatos "do mundo" real. O que o autor quis dizer com tal palavra? Aquele sentimento, você já o experimentou? Entendendo esses símbolos, sua leitura será mais rica e prazerosa.
* Carla Caruso é escritora, pesquisadora e realiza projetos de capacitação de professores no Estado de São Paulo.
INTERPRETANDO O TEXTO
1) Para falar sobre a naturalidade do ato de INTERPRETAR coisas, a autora do texto, logo de cara, nos cita vários exemplos de coisas, acontecimentos, fatos constantemente vividos, experimentados e interpretados por nós. Qual a intenção dela ao mencionar tais ações? De que maneira essa exemplificação contribui para a discussão que a autora pretende levantar acerca da INTERPRETAÇÃO DAS COISAS?
2) Segundo a autora, por que lemos/interpretamos os sinais todos que nos rodeiam?
3) "Qualquer palavra que surja a nossa frente é imediatamente decodificada." Explique essa afirmação contida no texto e diga por que a leitura do mundo é um processo ininterrupto na vida de uma pessoa.
4) Observe os versos abaixo, extraídos do poema de Paulo Leminski, citado pela autora:
"Pois isso é próprio da natureza do sentido: ele não existe nas coisas, tem que ser buscado, numa busca que é sua própria fundação."
O que significa dizer que "
a busca do sentido é sua própria fundação"?
5) Ao longo da exposição de suas idéias, a autora nos aponta um método para melhor aproveitarmos/realizarmos as nossas leituras. Que método é esse? Em que ele consiste?
6) A imagem abaixo é uma charge.
Após lê-la e interpretá-la, responda: como você poderia associá-la ao texto que acabou de ler?