quinta-feira, 26 de março de 2009

TRABALHO DE REDAÇÃO (1o COLEGIAL)


Os alunos do 1o colegial deverão entregar, no próximo dia 09 de abril, um trabalho de redação composto de três propostas de PRODUÇÃO TEXTUAL relacionadas ao gênero NARRATIVA.
* A PRIMEIRA proposta é aquela da FUVEST, passada em lousa, na sala de aula;

* A SEGUNDA é a proposta de continuação da crônica de Luís Fernando Veríssimo, postada aqui, no blogue; http://epifaniasmultiplas2009.blogspot.com/2009/03/narracao-proposta-de-producao-de-texto.html

* A TERCEIRA é a proposta baseada no poema "Irene no céu", de Manuel Bandeira, também postado nesse blogue. http://epifaniasmultiplas2009.blogspot.com/2009/03/proposta-de-producao-de-texto-narrativo.html

As três redações podem ser digitadas, entregues juntas, sob a forma de TRABALHO, com valor igual ao das primeiras provas de Língua Portuguesa.

DATA DA ENTREGA: 09 DE ABRIL.

O que é uma NARRATIVA? Para recordar as principais características do gênero narrativo, consulte o texto que fala sobre isso, clicando no link: http://epifaniasmultiplas2009.blogspot.com/2009/03/o-genero-narrativo-e-suas.html

QUEM TEM MEDO DA MORTADELA?

(Mário Prata)

Modismo é conosco mesmo. O brasileiro adora inventar moda. E todo mundo vai atrás dela. A última do brasileiro é "primeiro mundo". Os publicitários nativos inventaram a expressão e agora tudo que nós queremos tem que ser coisa do "primeiro mundo".
O carro é do primeiro mundo, a bebida é do primeiro mundo, a mulher é do primeiro mundo. Cineastas querem fazer filme de primeiro mundo, diretores de teatro trazem a moda lá da Europa. E os preços, evidentemente, também são de primeiro mundo.
Será que não nos bastam os exemplos de Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia, que se debruçaram na mamata da CEE e agora enfrentam uma séria recessão e desemprego?
Por que essa mania, de repente, de querer virar primeiro mundo? De terceiro para primeiro? Não seria o caso de fazer um estágio, antes, no "segundo mundo"?
Os do primeiro mundo adoram as coisas aqui do terceiro. Por exemplo, a caipirinha. Alemães, ingleses, americanos, suecos, caem trôpegos pelas calçadas de Copacabana. Quer coisa mais brasileira, mais terceiromundista, mais caipira e mais barata? Mas já estão avacalhando com ela. Agora já tem caipirinha de vodca e, pasmem, de rum. Caipirinha sempre foi e sempre será cachaça. Coisa de caipira mesmo. E é esta bebida que os europeus vêm procurar aqui. Mas já meteram a vodca e o rum nela para ficar com cara de primeiro mundo. Vamos deixar a caipirinha caipira, brasileiros!
Toda essa introdução para chegar à mortadela. Ou mortandela, como preferem garçons e padeiros. Quer coisa mais brasileira que a mortadela? Claro que ela veio lá da Itália. Mas tornou-se, talvez pelo baixo preço, o petisco do brasileiro. O nome vem de murta, uma plantinha italiana que lhe valeu o nome. Infelizmente o brasileiro acha que mortadela é coisa de pobre, de faminto. E o que somos nós, cara-pálidas?
A cachaça e a mortadela são produtos do Brasil, do nosso querido terceiro mundo. Mas acontece que há um preconceito dos patrícios contra a cachaça e a mortadela. Contra a mortadela o caso é mais grave. Se você oferecer mortadela numa festa, vão te olhar feio. Você deve estar perto da falência.
Neste Natal e no Reveillon freqüentei várias mesas, e em nenhuma havia mortadela. Queijos de primeiro mundo, vinho de primeiro mundo, perfumes de primeiro mundo, até um peru argentino eu comi. Mas mortadela que é bom, nada. Nem uma fatiazinha.
Quando o brasileiro irá assumir que a mortadela é a melhor entrada do mundo? Quando você for para a Europa, não adianta pedir dead her que não vai encontrar. Nem muerta dela.
Mas nem tudo está perdido. No dia 1º do ano almocei com o casal Annette e Tenório de Oliveira Lima, e lá estava a mortadela, fresquinha no prato, rósea. Um limãozinho em cima, um pedacinho de pão e viva o terceiro mundo, visto lá de cima, do apartamento do Morumbi.
No mesmo dia, de noite, fui ao peemedebista Bar Nabuco, debaixo de frondosas sibipirunas da Praça Vilaboim e estava lá, no cardápio, toda sem-vergonha, a mortadela brasileira. Achei que estava começando bem o ano. Vai ser um Ano Bom, como se dizia antigamente. Se os novos-ricos do PMDB estão comendo mortadela, nem tudo está perdido. No Gargalhada Bar mais para PT, há um excelente sanduíche de mortadela.
E, nas boas padarias do ramo você ainda encontra a verdadeira mortadela, aquela que chega no balcão, feita na chapa, sem queimar muito, servida em pãezinhos saídos do forno.
Vamos deixar o primeiro mundo para lá. Vamos, este ano, tomar cachaça e comer mortadela. É muito mais barato ser pobre. Deixemos que o primeiro mundo exploda entre eles, mesmo tomando uísque escocês e comendo queijo fedido.
Por favor senhores brasileiros primeiro-mundistas, vamos deixar de frescura. Mortadela é o que há. É um barato.
Feliz 94 para todos vocês. Muita cachaça e muita mortadela. Apesar de tudo, o primeiro mundo é triste e melancólico. Continuemos felizes e alegres com a nossa cachaça e o nossa gostosa mortadela.
E que os candidatos à presidência deste nosso país do terceiro mundo não se esqueçam que o Jânio sempre se elegeu comendo "mortadela" e não caviar do primeiro mundo.

Texto extraído do livro:
Filho é bom, mas dura muito. Mário Prata. Editora Maltese. São Paulo. 1995. p. 157-159

INTERPRETANDO O TEXTO:

1) O autor afirma, em seu primeiro paragráfo, que nós, brasileiros, nos deixamos guiar por "modismos". O que você entende por modismos? Você concorda com a afirmação feita pelo autor? Jusitifique sua resposta.

2) "Os do primeiro mundo adoram as coisas aqui do terceiro." A quem se refere essa frase, extraída do texto? O que o autor quer nos comunicar através dela - qual a crítica embutida nessa declaração?

3) De que forma o autor nos mostra que a mortadela é um petisco típico muito apreciado pelo brasileiro e familiar às nossas mesas?

4) Na sua opinião, por que as pessoas ficam tentando "sofisticar" suas escolhas, optando por coisas de "primeiro mundo", em detrimento dos artigos e produtos nacionais - que têm muito mais a ver com nossa realidade, nossos costumes e nossa tradição? Cite um exemplo deste fenômeno incluído pelo autor em seu texto.

5) "Fui ao peemedebista Bar Nabuco". O que o autor quis dizer com esta frase? O que significa "peemedebista"?

6) O autor conclui seu texto dizendo: "Feliz 94 para todos vocês. Muita cachaça e muita mortadela." O que ele efetivamente quis recomendar ao leitor através das palavras "cachaça" e "mortadela"? Essas palavras foram tomadas em seu aspecto conotativo ou denotativo?

POR NÃO ESTAREM DISTRAÍDOS

(Clarice Lispector)

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

DOAR A SI PRÓPRIO


(Clarice Lispector)

Tenho lidado com problemas de enxerto de pele, fiquei sabendo que um banco de doação de pele não é viável, pois esta, sendo alheia, não adere por muito tempo à pele do enxertado. É necessário que a pele do paciente seja tirada de outra parte de seu corpo, e em seguida enxertada no lugar necessário. Isto quer dizer que no enxerto há uma doação de si para si mesmo.
Esse caso me fez devanear um pouco sobre o número de outros em que a própria pessoa tem que doar a si própria. O que traz solidão, e riqueza, e luta. Cheguei a pensar na bondade que é tipicamente o que se quer receber dos outros – e no entanto às vezes só a bondade que doamos a nós mesmos nos livra da culpa e nos perdoa. E é também, por exemplo, inútil receber a aceitação dos outros, enquanto nós mesmos não nos doamos a auto-aceitação do que somos. Quanto à nossa fraqueza, a parte mais forte nossa é que tem que nos doar ânimo e complacência. E há certas dores que só a nossa própria dor, se for aprofundada, paradoxalmente chega a amenizar.
No amor felizmente a riqueza está na doação mútua. O que não significa que não haja luta: é preciso se doar o direito de receber amor. Mas lutar é bom. Há dificuldades que só por serem dificuldades já esquentam o nosso sangue, que este felizmente pode ser doado.
Lembrei-me de outra doação a si mesmo: o da criação artística. Pois em primeiro lugar por assim dizer tenta-se tirar a própria pele para enxertá-la onde é necessário. Só depois de pegado o enxerto é que vem a doação aos outros. Ou é tudo já misturado, não sei bem, a criação artística é um mistério que me escapa, felizmente. Não quero saber muito.

quarta-feira, 25 de março de 2009

PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE TEXTO NARRATIVO

Texto-mote:

IRENE NO CÉU

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
_ Licença, meu branco!
E São Pedro, bonachão:
_ Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

(Manuel Bandeira)

Nesse pequeno poema, Manuel Bandeira nos apresenta uma personagem e, muito brevemente, nos dá uma idéia de algumas de suas principais características.
Sua tarefa é a seguinte: escreva um breve texto narrativo, em prosa, contando a vida e a morte de Irene. Lembre-se de caracterizar o cenário e as personagens criadas por você.

O GÊNERO NARRATIVO E SUAS CARACTERÍSTICAS


O termo “narrar” vem do latim “narratio” e quer dizer o ato de narrar acontecimentos reais ou fictícios. Na Antiguidade Clássica, os padrões literários reconhecidos eram apenas o épico, o lírico e o dramático. Com o passar dos anos, surgiu, dentro do gênero épico, a variante gênero narrativo, a qual apresentou concepções de prosa com características diferentes, o que fez com que surgissem divisões de outros gêneros literários dentro do estilo narrativo: o romance, a novela, o conto, a crônica, a fábula. Porém, praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilísticos em comum e devem responder a questionamentos, como: quem?, que? quando? onde? por quê? Vejamos a seguir:

• Narrador: é o que narra a história, pode ser onisciente (terceira pessoa, observador, tem conhecimento da história e das personagens, observa e conta o que está acontecendo ou aconteceu) ou personagem (em primeira pessoa; narra e participa da história e, contudo, narra os fatos à medida em que acontecem, não pode prever o que acontecerá com as demais personagens).

• Tempo: é um determinado momento em que as personagens vivenciam as suas experiências e ações. Pode ser cronológico (um dia, um mês, dois anos) ou psicológico (memória de quem narra, flash-back feito pelo narrador).

• Espaço: lugar onde as ações acontecem e se desenvolvem.

• Enredo: é a trama, o que está envolvido na trama que precisa ser resolvido, e a sua resolução, ou seja, todo enredo tem início, desenvolvimento, clímax e desfecho.

• Personagens: através das personagens, seres fictícios da trama, se encadeiam os fatos que geram os conflitos e ações. À personagem principal dá-se o nome de protagonista e pode ser uma pessoa, animal ou objeto inanimado, como nas fábulas.

O que vimos foram os recursos que os estilos narrativos têm em comum; agora, vejamos cada um deles e suas características, separadamente:

• Romance: é uma narrativa longa, geralmente dividida em capítulos, possui personagens variadas em torno das quais acontece a história principal e também histórias paralelas a essa, pode apresentar espaço e tempo variados.

• Novela: é um módulo mais compilado do romance e também mais dinâmico, é dividida em episódios, são contínuos e não têm interrupções.

• Conto: é uma narrativa curta que gira em torno de um só conflito, com poucos personagens.

• Crônica: é uma narrativa breve que tem por objetivo comentar algo do cotidiano; é um relato pessoal do autor sobre determinado fato do dia-a-dia.

INTERPRETANDO TEXTOS


Para entender, identifique os símbolos.
(Carla Caruso)

"Ler significa aproximar-se de algo que acaba de ganhar existência."
(Italo Calvino - escritor italiano)

Um mapa aberto. A mão estendida para a cartomante. Os búzios na terra. Pegadas na areia. Um pescador olha para o céu e sabe se vai chover. Um biólogo segue os rastros de uma onça pela floresta. Muros escritos da cidade. A linguagem das mãos dos surdos-mudos. O rosto do outro. Os sonhos estranhos. As placas na estrada.
Livros abertos: uma menina deitada no chão vê imagens coloridas. Um homem lê um romance. Uma mulher está atenta às notícias do dia, num jornal. Leituras.
Vivemos num mundo imerso em sinais que fatalmente vemos e precisamos olhar, ler, decifrar. Talvez tão naturalmente quanto respiramos, desenvolvemos a capacidade de ler continuamente as coisas que nos cercam. Lemos para nos entender, para entender os outros e o universo de que fazemos parte. Desde bebês, já estamos atentos às linguagens que nos circundam: os cheiros, os barulhos, as vozes da mãe, do pai, os toques: carícias ou palmadas.

Oralidade e escrita

À medida que crescemos, lançamo-nos às aventuras dos sons articulados, do falar, da língua. Logo passamos a desenhar, a começar a delinear formas na página branca do papel. Começamos a reconhecer letras, sílabas, textos: a escrita abre novas possibilidades para a linguagem que, oralmente, já conquistamos. Depois de aprender a decifrar os textos, estaremos lendo o tempo todo - para sempre. Qualquer palavra que surja a nossa frente é imediatamente decodificada.

Descobrir e decifrar

O ato de ler implica descobrir e conhecer o mundo. Com ele, desenvolvemos o tempo todo um processo de atribuir sentido às coisas. Pense nos inúmeros textos que você encontra em seu dia-a-dia, enquanto está caminhando em uma avenida, por exemplo: pichações nos muros, outdoors, nomes de ruas nas placas das esquinas, anúncios de lojas, letreiros de edifícios, números das casas, sem falar na banca de jornal, repleta de imagens e manchetes. Na verdade, quase sem perceber, você está caminhando por um universo de signos, símbolos, ou, ainda, de sinais.
O sentido das coisas nos vem principalmente por meio do olhar, da leitura: da compreensão e da interpretação desses múltiplos signos que enxergamos, desde os mais corriqueiros, como os nomes de ruas, até os mais complexos, como um poema, com metáforas e imagens - cujo sentido, muitas vezes, demoramos para decifrar.
No poema que segue, de Paulo Leminski, percebe-se o quanto é essencial para o ser humano a atribuição de significados, tanto para os mistérios do nosso mundo interior, quanto para as coisas e fenômenos do mundo exterior a nós:

Buscando o sentido

O sentido, acho, é a entidade mais misteriosa do universo. Relação, não coisa, entre a consciência, a vivência e as coisas e os eventos. O sentido dos gestos. O sentido dos produtos. O sentido do ato de existir. Me recuso a viver num mundo sem sentido. Estes anseios/ensaios são incursões conceituais em busca do sentido. Pois isso é próprio da natureza do sentido: ele não existe nas coisas, tem que ser buscado, numa busca que é sua própria fundação. Só buscar o sentido faz, realmente, sentido. Tirando isso, não tem sentido.

Interpretar um texto, então, é tarefa com a qual você já está habituado: da mesma maneira que você identifica na cozinha um estrondo de metais como o sinal de que sua mãe deixou cair as panelas no chão, identifique os símbolos do texto e tente relacioná-los com fatos "do mundo" real. O que o autor quis dizer com tal palavra? Aquele sentimento, você já o experimentou? Entendendo esses símbolos, sua leitura será mais rica e prazerosa.

* Carla Caruso é escritora, pesquisadora e realiza projetos de capacitação de professores no Estado de São Paulo.

INTERPRETANDO O TEXTO

1) Para falar sobre a naturalidade do ato de INTERPRETAR coisas, a autora do texto, logo de cara, nos cita vários exemplos de coisas, acontecimentos, fatos constantemente vividos, experimentados e interpretados por nós. Qual a intenção dela ao mencionar tais ações? De que maneira essa exemplificação contribui para a discussão que a autora pretende levantar acerca da INTERPRETAÇÃO DAS COISAS?

2) Segundo a autora, por que lemos/interpretamos os sinais todos que nos rodeiam?

3) "Qualquer palavra que surja a nossa frente é imediatamente decodificada." Explique essa afirmação contida no texto e diga por que a leitura do mundo é um processo ininterrupto na vida de uma pessoa.

4) Observe os versos abaixo, extraídos do poema de Paulo Leminski, citado pela autora:

"Pois isso é próprio da natureza do sentido: ele não existe nas coisas, tem que ser buscado, numa busca que é sua própria fundação."

O que significa dizer que "a busca do sentido é sua própria fundação"?

5) Ao longo da exposição de suas idéias, a autora nos aponta um método para melhor aproveitarmos/realizarmos as nossas leituras. Que método é esse? Em que ele consiste?


6) A imagem abaixo é uma charge.


Após lê-la e interpretá-la, responda: como você poderia associá-la ao texto que acabou de ler?

quarta-feira, 18 de março de 2009

NARRAÇÃO - PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE TEXTO I


O trecho abaixo foi extraído de uma crônica de Luís Fernando Veríssimo e sugere uma interessante situação narrativa. Leia-o com atenção e, a seguir, faça o que se pede.

“Um dia as duas fizeram um pacto. Se reuniriam dali a 20 anos naquele mesmo lugar. Acontecesse o que acontecesse, nenhuma podia faltar ao encontro. Mesmo que tivesse que vir de longe. Mesmo que estivesse morta! E selaram o pacto não com sangue, mas com chantili na testa, já que estavam numa sorveteria. Para não esquecer. Tinham 15 anos.
Vinte anos depois, uma mulher entrou numa locadora de vídeo e perguntou:
_Aqui não era uma sorveteria?
O funcionário não sabia, o dono disse que, quando comprara, a loja era um depósito. Sorveteria? Só se fosse há muito tempo. A mulher agradeceu e ficou olhando as fitas enquanto esperava. Era melhor que a outra não aparecesse, mesmo. Tinham se separado. Nunca mais tinham se visto. Que tipo de conversa poderiam ter?
_Eu? Não fiz nada! Não me formei, não namorei, não me casei, não viajei, nada. Estou com 35 anos e ainda não tive uma vida.
Já estava quase desistindo e indo embora, convencida de que a outra não apareceria, quando a viu entrar na loja.”

(VERÍSSIMO, Luis Fernando. Chantili. In: Histórias Brasileiras de Verão. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.)

PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE TEXTO:

Sua tarefa narrativa é desenvolver a história do encontro das duas amigas, passados vinte anos do “pacto” que fizeram na antiga sorveteria. Mantenha o mesmo narrador (onisciente), o mesmo foco narrativo (3a pessoa) e procure desenvolver o seu texto a partir de uma perspectiva compatível com as características da personagem.

A DEFESA DO ALUNO


Os textos abaixo são de autoria desconhecida e foram amplamente divulgados na rede mundial de computadores:

DEFESA DO ALUNO

O aluno não copia: compara resultados.
O aluno não fala muito: troca opiniões e exercita sua capacidade de comunicação.
O aluno não dorme: se concentra para os exercícios mais difíceis.
O aluno não se distrai: examina as moscas.
O aluno não falta à escola: é solicitado a comparecer em outros lugares.
O aluno não diz besteira: desabafa.
O aluno não masca chiclete: fortalece a sua mandíbula.
O aluno não lê revistas na sala: ele se informa sobre assuntos de seu interesse.
O aluno não destrói o colégio: ele apenas decora a escola segundo seu próprio gosto.

100 motivos para cabular aula.

1- O professor está doente. Se não está, ficará com a minha presença.
2- A crise me corrompeu.
3- Já que a aula é um dever, vamos dever mais uma aula.
4- Segunda que vem eu vou.
5- Esta semana já foi pro brejo.
9- As melhores recordações que tenho da escola são os dias em que matei aula.
10- Sou um incompreendido.
11- Minha mãe não me deixa ir a escola em dias nublados.
15- Quando eu voltar para a escola, todos vão ficar contentes em me ver.
16- Quem não matou aula na vida não teve infância.
18- Tive um sonho que a III guerra mundial começava hoje.
19- Estou no cio.
20- Até parece que matemática é importante.
21- O Ministro da Economia também matou aula.
22- Tenho alergia a uniformes…
24- Se eu aparecer, também serei reprovado.
25- Estou me acostumando a sentir falta da escola.
26- Gosto que todos fiquem na expectativa de eu aparecer.
27- A aula de educação física esgotou minhas possibilidades de bom aproveitamento intelectual.
28- Hoje a idéia mais brilhante que eu poderia ter é matar aula.
32- Estou ocupado redigindo a justificativa de minha falta.
33- Antes só do que mal escolarizado.
34- Neste momento eu tenho tudo que quero da vida: uma cama quentinha e uma mãe compreensiva.
35- Derrotei o travesseiro, mas, perdi para os lençóis.
36- A pedagogia moderna aceita ausências eventuais, mesmo que sejam constantes.
37- Hoje, meu corpo não, mas, meu espirito estará presente.
43- Minha professora não entende nada.
44- Eu não entendo minha professora.
45- Por mais que eu estude, esta matéria não entra.
46- Nunca deixe para depois de amanhã o que pode fazer amanhã.
47- Sexta-feira é dia consagrado aos deuses de minha religião.
52- Acordei tarde.
53- Acordei cedo e dormi de novo.
54- Tenho uma rara doença no cérebro que me impede de lembrar…O que que eu estava dizendo?
55- Tive que segurar o cachorro pra ele tomar vacina.
61- Esqueci onde fica a Escola.
64- Eu pego esta matéria por telepatia.
65- Prefiro o Telecurso.
66- Eu queria uma escola com mordomias.
67- Quero que sintam minha ausência.
68- Depois que minha professora me disse que aprender é uma festa, perdi o convite.
72- De aula em aula, o aluno enche o saco.
73- Cansei de matar aulas, agora só ensino como se faz.
74- Não foi a primeira vez e não será a última.
80- Fui suspenso por excesso de faltas.
83- Eu não mato aulas. Elas é que me matam.
87- Faltei hoje porque estou preocupado com uma boa desculpa para faltar amanhã.
88- Faltei por motivo de luto. Você não imagina como eu luto com a preguiça.
90- Estarei procurando o cara que inventou a escola.
91- Sou supersticioso, ir a escola em dias ímpares dá azar.
93- Tenho uma incrível vocação para a vagabundagem.
100- E depois de tantas boas idéias, você queria mais uma?

RESPONDA:

1) Os textos acima podem ser considerados CRÔNICAS? Jusitifique sua resposta.
Sim, pois são textos que se baseiam em situações cotidianas: extraem do dia-a-dia o assunto de que vão tratar.

2) O tom humorístico predomina na construção dos dois textos. Qual é a figura de linguagem mais utilizada ao longo deles? Cite um exemplo.
A figura de linguagem mais utilizada nesses textos é a ironia: os autores falam de maneira debochada sobre o cotidiano de um aluno dentro de uma escola.

3) Pensando na forma como foram redigidos os dois textos, é possível imaginar quem seriam seus autores? (Sua faixa etária, sua classe social, sua personalidade...)
Sim, a julgar pela linguagem coloquial, "descolada" e irreverente, podemos facilmente supor que se tratem de jovens de classe média-alta, com boa formação (refletida no bom vocabulário) e acesso a recursos de informática.

O PADEIRO


(Rubem Braga)

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.
Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:
- Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a idéia de gritar aquilo?
"Então você não é ninguém?"
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: "não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém...
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz! Eu era só um rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque, no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; "não é ninguém, é o padeiro!"
E assobiava pelas escadas.

(Texto extraído do livro: Para gostar de ler, Vol I -Crônicas . Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. 12ª Edição. Editora Ática . São Paulo.1989. p.63 - 64.)

INTERPRETANDO O TEXTO

1) Sabendo que a palavra ablução significa “ação de se lavar”, reescreva a frase “faço minhas abluções”, tirada do texto lido, sem utilizá-la.
"Faço minha higiene pessoal" ou "Lavo o rosto, tomo banho, escovo os dentes..."

2) Lock-out (lê-se locáut) é uma palavra da língua inglesa que indica um tipo especial de greve. É possível descobrir que tipo de greve é essa a partir das informações fornecidas pelo autor em seu texto?
Sim, podemos, através do texto, identificar de que tipo de greve se trata: "greve dos patrões".

3) Qual foi a primeira reação do padeiro diante da pergunta do autor?
Abriu um en0rme sorriso.

4) Qual a relação entre o trabalho do padeiro e o trabalho do autor quando jovem?
Ambos realizavam um trabalho noturno cujos resultados, logo cedo, estaria na porta das casas de todas as pessoas: o jornal e o pão.

5) Relacione a frase “Não é ninguém, é o padeiro!” com a lição de humildade aprendida pelo autor.
Embora os dois personagens realizassem trabalhos importantes para a sociedade (alimento e cultura), o jornalista se envaidecia por seu nome aparecer nos jornais, todas as manhãs, diferentemente do humilde padeiro que, embora também realizasse um trabalho digno e importante - necessário à comunidade - não se vangloriava nem se envaidecia pelo que fazia. Ao contrário, habituara-se à frase "Não é ninguém, é o padeiro!", que claramente manifesta sua humildade e simplicidade em relação à sua profissão.

6) Que tipo de narrador esse texto apresenta? Justifique sua resposta com um trecho extraído do texto.
Narrador-personagem, em 1a pessoa. Comprova essa classificação o seguinte trecho: "Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro." (Ou qualquer outro trecho que evidencie esse tipo de narrador, selecionado por você.)

7) Usando seus conhecimentos acerca do gênero textual conhecido como CRÔNICA, diga por quais motivos o texto de Rubem Braga pode ser assim classificado.
O texto de Rubem Braga é uma crônica porque fala sobre uma situação cotidiana, vivida pelo autor, que foi transformado em um texto artístico, de caráter literário. Justifica, também, a classificação do texto como crônica o fato de que se trata de um texto breve, de forte apelo emocional.

O MENINO DAS MEIAS VERMELHAS



(Carlos Heitor Cony)

O nome dele era complicado, passou a primeira semana sem que ninguém o chamasse para brincar. Até que repararam que sempre usava meias vermelhas e ele ficou sendo o "menino das meias vermelhas". Viva pelos cantos, quase não falava, quase não existia. Apesar disso, não parecia infeliz. Era apenas solitário: era o Menino das Meias Vermelhas.
Um dia lhe perguntaram: " Menino das Meias Vermelhas, por que você sempre usa meias vermelhas?" Ele respondeu como se não fosse com ele: "No dia dos meus anos, minha mãe levou-me ao circo e colocou-me meias vermelhas. Eu reclamei, com aquelas meias chamaria a atenção dos outros, todos zombariam de mim. Mas ela explicou: 'É que lá vai Ter muita gente, se eu me perder de você, olharei para baixo e será fácil encontrá-lo"
E todos os dias lá vinha o Menino de Meias Vermelhas com suas meias vermelhas, com seu silêncio, sua solidão, como se esperasse alguma coisa ou como se tudo já houvesse acontecido com ele. Ninguém dava mais importância ao menino nem às suas meias vermelhas. E era isso o que ele parecia desejar.
Sentava em cima de uma pedra, nos fundos do campo onde os outros jogavam pelada ou soltavam pipas. Até que veio a tarde de chuva e os meninos não puderam jogar pelada nem soltar pipas. Como distração resolveram provocar o Menino das Meias Vermelhas.
"Você não está no circo" Tire essas meias vermelhas, elas são ridículas!"
O Menino das Meias Vermelhas não ficou aborrecido. Depois de algum tempo falou, como se falasse consigo mesmo: "Eu vou continuar usando meias vermelhas. É que minha mãe foi embora. Um dia, talvez ela passe por mim em algum lugar, verá minhas meias vermelhas e me reconhecerá."
O sol apareceu de repente e os outros meninos foram jogar pelada e soltar pipas.

MILA


(Carlos Heitor Cony)

Era pouco maior do que minha mão: por isso eu precisei das duas para segurá-la, 13 anos atrás. E, como eu não tinha muito jeito, encostei-a ao peito para que ela não caísse, simples apoio nessa primeira vez. Gostei desse calor e acredito que ela também. Dias depois, quando abriu os olhinhos, olhou-me fundamente: escolheu-me para dono. Pior: me aceitou.
Foram 13 anos de chamego e encanto. Dormimos muitas noites juntos, a patinha dela em cima do meu ombro. Tinha medo de vento. O que fazer contra o vento?
Amá-la — foi a resposta e também acredito que ela entendeu isso. Formamos, ela e eu, uma dupla dinâmica contra as ciladas que se armam. E também contra aqueles que não aceitam os que se amam. Quando meu pai morreu, ela se chegou, solidária, encostou sua cabeça em meus joelhos, não exigiu a minha festa, não queria disputar espaço, ser maior do que a minha tristeza.
Tendo-a ao meu lado, eu perdi o medo do mundo e do vento. E ela teve uma ninhada de nove filhotes, escolhi uma de suas filhinhas e nossa dupla ficou mais dupla porque passamos a ser três. E passeávamos pela Lagoa, com a idade ela adquiriu "fumos fidalgos'; como o Dom Casmurro, de Machado de Assis. Era uma lady, uma rainha de Sabá numa liteira inundada de sol e transportada por súditos imaginários.
No sábado, olhando-me nos olhos, com seus olhinhos cor de mel, bonita como nunca, mais que amada de todas, deixou que eu a beijasse chorando. Talvez ela tenha compreendido. Bem maior do que minha mão, bem maior do que o meu peito, levei-a até o fim.
Eu me considerava um profissional decente. Até semana passada, houvesse o que houvesse, procurava cumprir o dever dentro de minhas limitações. Não foi possível chegar ao gabinete onde, quietinha, deitada a meus pés, esperava que eu acabasse a crônica para ficar com ela.
Até o último momento, olhou para mim, me escolhendo e me aceitando. Levei-a, em meus braços, apoiada em meu peito. Apertei-a com força, sabendo que ela seria maior do que a saudade.

(O texto acima foi publicado no jornal "Folha de São Paulo" , edição de 04-06-1995, e faz parte do livro "Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha", Publifolha – São Paulo, 2001, pág. 318, organização de Arthur Nestrowski.)

DESPEDIDA


(Rubem Braga)

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

(Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.)