quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO



O que você acha do novo Acordo Ortográfico?

Está em vigor o Acordo Ortográfico que unifica a escrita em todos os países que falam português. Ainda causador de dúvidas e polêmicas, o Acordo mudou a grafia de apenas 0,5% das palavras escritas no Brasil. Para muitas pessoas, esse assunto é indiferente. Mas quem usa obrigatoriamente a ortografia oficial, como professores, jornalistas, redatores, editores, escritores e estudantes, tem muito o que decorar. "Esse Acordo só interessa ao Brasil", já gritaram certos portugueses. "É útil e facilitará o intercâmbio cultural entre países lusófonos", retrucam especialistas. O fato é que até 2012, o país precisa se adequar às novas regras. O que você acha desse Acordo?
Elabore uma dissertação considerando as ideias a seguir:

Bom para a unidade e prestígio dos países?

"Para [Evanildo] Bechara, a reforma ortográfica é necessária para defender a língua portuguesa. Trata-se do único idioma falado por um grupo majoritário - mais de 230 milhões de pessoas - no mundo a ter duas grafias diferentes. É essencial que o português se apresente com uma única vestimenta gráfica. Para manter o prestígio e para que seja mais bem ensinado e compreendido por todos".

[Sylvia Colombo. Folha de S. Paulo. Ilustrada, 29/12/08.]

Somos 230 milhões no mundo


[Veja, Especial, idioma p. 193. São Paulo: Abril. Ed. 2093. Ano 41, nº 52: 31/12/08.]


O (des)acordo ortográfico

"Nesta Folha e em outros veículos, já expressei claramente minha oposição a esse estéril e inoportuno Acordo, cujo custo supera o suposto benefício. Respeito profundamente a posição (...) de homens da estatura e dignidade do lexicógrafo Mauro Villar, [...] e do professor Evanildo Bechara, mas, do baixo da minha insignificância, ouso perguntar: não teria sido melhor esperar que tudo estivesse realmente pronto para "cortar a fita do Acordo?"

[Pasquale Cipro Neto. Folha de S. Paulo. Cotidiano, 1/1/09.]

Um Acordo e várias vozes

•"Buemba!Buemba! [...] Novidades da reforma, ops, do puxadinho ortográfico. Tem um botequim no Rio que tá vendendo lingüiça com trema e linguiça sem trema. Com molho e sem molho! Rárará!"

[José Simão. Folha de S. Paulo. Ilustrada, p. E9. 13/1/09].


•"Pára tudo, tivemos uma idéia ótima. Quer dizer... Para tudo, tivemos uma ideia ótima. Estranho, não? (...) Nós continuaremos a gritar: PARA TUDO! Mas olha como é ruim gritar isso sem acento! O acento confere drama, pressa, desespero. E não, não deixaremos de ser desesperadas nem dramáticas (...).. Mas teremos de escrever desse jeito, porque é o que manda a reforma ortográfica que começa a funcionar (...).

[Jô Hallack, Nina Lemos, Raq Affonso. (02 Neurônios) Folha de S. Paulo. Folhateen, 6/10/08.]

•[...] Vou sentir falta da velha ortografia, uma falta nada nostálgica, mas visual. "O voo, sem o circunflexo, parece que ficou mais raso e pesado.(...). E o que dizer da nova 'ideia'? Sem o acento agudo tornou-se grave, fechada (...). E os tremas, esses dois pontinhos suspensos, olhinhos fixos que davam tanta graça e elegância à letra 'u'?

[Milton Hatoum. O Estado de S. Paulo. Caderno 2, 9/1/09]

•[...] O atroz dilema do hífen (co-abitar ou coabitar?), o degredo do acento agudo de palavras como jiboia e averigue e a horrível morte de certos circunflexos estão levando gramáticos às fuças.(...). Sem o chapeuzinho, por exemplo, como conjugar verbos como coar e moer? Eu coo, eu moo? (...) Enquanto isso, os dois inocentes pontinhos sobre linguiça, quinquênio, pinguim etc foram varridos pelos linguístas sem a menor contemplação...

[Ruy Castro. Folha de S. Paulo, Opinião. 10/1/08.]

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO


"Selinho" é inocente ou tem significado sexual?

No mês de setembro de 2009, foi preso em Fortaleza um turista italiano, por ter dado um beijo nos lábios da filha de 8 anos. Esse "caso de polícia" fez com que se discutisse a atitude cultural do "selinho" que, para muitas pessoas, tem forte conotação sexual, principalmente entre pais e filhos. Segundo a esposa brasileira, indignada com a prisão do marido, essa é apenas uma forma inocente que se usa na família deles para demonstrar afeto. De fato, até amigos trocam um "selinho", de vez em quando. A questão é: a moda do selinho é inocente? Ou ele deve ser evitado, pois tem apelo sexual? O que você acha?

O "selinho" em risco

"O 'selinho' está na boca (fechada) da galera. A modalidade de beijo em que lábios se tocam de leve, se praticada entre pais e filhos, pode ocupar lugar no banco dos réus. Igor Bahia, 17, já foi acusado [...] de delito parecido com o do italiano [de Recife]. [Beijava] a mãe na rua quando algumas pessoas sugeriram, maldosamente, que não eram parentes. Ele é negro. Ela, branca. Ygor diz que prefere deixar o episódio 'para trás'. Mas que não desistiu de mostrar amor como aprendeu em casa, com 'selinhos' e chamegos."

[Folhateen. 14/09/2009]


Selinho, sim, mas só para poucos

"[...] Hebe Camargo, toda animada, pediu a Silvio Santos um 'selinho' (beijinho). Não ganhou: 'Nem selinho, nem selo, nem selão', ouviu dele, categórico. Em seguida, Gilberto Gil entrou no palco, de mão estendida para cumprimentá-lo. O que fez o apresentador? Disse 'selinho', esticou os lábios e zás - tascou um beijinho na boca do músico. A cena foi ao ar de madrugada [do programa de novembro], no encerramento do Teleton, a maratona beneficente exibida pelo SBT. Gil ficou surpreso, Hebe fingiu brabeza e Silvio riu muito. 'Tirei uma onda, foi só uma bicotinha', diz ele. "Tudo tem uma primeira vez'."

[Revista Veja, n. 1.725, 7 de novembro de 2001]

Entre pais e filhos pode ser ambíguo ou perigoso

"A psicóloga da USP Leila Tardivo aconselha a evitar contato físico ou visual que possa ser mal-interpretado pelos filhos. 'Confundir amor com sexo é um risco, ainda mais na idade em que os desejos crescem. Pais não devem falar de sua vida sexual, nem expô-la. Pai que quer ser só amigo dos filhos faz, na realidade, [com] que esses jovens fiquem 'orfãos' [...]."
" 'Precisaríamos de uma bola de cristal para saber se a intenção de um selinho é sexual ou não' - diz o desembargador da Infância e da Juventude Antônio Malheiros, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Malheiros admite que beijos, carinho paterno e hábitos como andar nu em casa são [uma] 'zona cinzenta' para o direito."

[Folhateen, 14/09/2009]

Selinhos e agressão

Dois homens, um de 30 anos e outro de 19, que se cumprimentaram com um beijo tipo "selinho", foram agredidos no Rio de Janeiro. A violência aconteceu em março deste ano, de madrugada, na escadaria de Santa Teresa, na Lapa. As vítimas contaram que, após o cumprimento, um grupo de dez pessoas os ameaçou e um deles levou "socos e chutes". Eles alegam também que a Polícia Militar negou socorro. Militante da ONG Arco-Íris e superintendente estadual de direitos individuais, coletivos e difusos, Cláudio Nascimento notificou a Secretaria da Segurança Pública, a Ouvidoria da PM e o comando do 13º BPM (centro), responsável pela área, pedindo providências.

Observações:

•Seu texto deve ser escrito em língua portuguesa;
•Não deve estar redigido em forma de poema (versos) ou narração;
•A redação deve ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas escritas;
•Não deixe de dar um título a sua redação.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

REALISMO BRASILEIRO: MACHADO DE ASSIS



ATIVIDADE

Depois de ter lido esse brilhante conto machadiano, responda: sob qual perspectiva o autor aborda as suas personagens? Qual é seu maior objetivo nessa narrativa? Quais características presentes nesse conto nos permitem associá-lo à estética realista?

domingo, 4 de outubro de 2009

REALISMO PORTUGUÊS: EÇA DE QUEIRÓS


José Maria Eça de Queirós nasceu em Póvoa do Varzim, em 1845. Passou a infância e juventude longe dos pais, pois estes não eram casados. Estudou direito na Universidade de Coimbra. Ligou-se por essa ocasião ao grupo renovador chamado “Escola de Coimbra”, responsável pela introdução do Realismo em Portugal.
Eça não participou diretamente da “Questão Coimbrã” - 1865 - , a polêmica em que jovens defensores de novas idéias literárias , artísticas e filosóficas liderados por Antero de Quental , se defrontaram com os velhos românticos, ultrapassados e conservadores, liderados por Visconde de Castilho.
Dedicou-se ao jornalismo depois de formado , e viajou pelo Oriente. Em 1871, participou das “Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense” – nova etapa da campanha que implantou em Portugal as novas perspectivas culturais do Realismo falando sobre o “Realismo como nova expressão da arte”.
Eça de Queirós e o representante maior da prosa realista em Portugal. Grande renovador do romance , abandonou a linha romântica , e estabeleceu uma visão critica da realidade. Afastou-se do estilo clássico , que pendurou por muito tempo na obra de diversos autores românticos , deu a frase uma maior simplicidade , mudando a sintaxe e inovando na combinação das palavras. Evitou a retórica tradicional e os lugares comuns , criou novas formas de dizer , introduziu neologismos e, principalmente utilizou o adjetivo de maneira inédita e expressiva. Este novo estilo só teve antecessor em Almeida Garrett e valeu a Eça a acusação de galicismo e estabeleceu os fundamentos da prosa moderna da Língua Portuguesa.
Enfim , no dia 16 de Agosto de 1900 Eça morre em Paris. Deixava um episódio literário que veio a ser publicado aos poucos.

O PRIMO BASÍLIO

O romance "O primo Basílio", de Eça de Queirós, critica a família pequeno-burguesa de Lisboa. Luísa, educada sob influência de frouxos princípios morais e religiosos, romântica e imaginativa por natureza e que sempre tivera uma vida ociosa, casa-se com Jorge, homem bom, inteligente e simpático. Na primeira ausência do marido, Luísa o trai, seduzida por Basílio, seu primo e antigo namorado, recém-chegado a Lisboa. Juliana, sua criada, apodera-se de algumas cartas de Basílio a Luísa e passa a chantagear a patroa. Basílio desaparece, deixando Luísa entregue aos caprichos e exigências de Juliana. Sebastião, um amigo da família, consegue reaver as cartas. Jorge regressa. Luísa adoece e morre. Jorge, então, descobre-lhe a infidelidade.


EXERCÍCIO:

Este é um fragmento do capítulo III da obra, quando ocorre o reencontro de Basílio e Luísa:

CAPÍTULO III

Havia doze dias que Jorge tinha partido e, apesar do calor e da poeira, Luísa vestia-se para ir à casa de Leopoldina. Se Jorge soubesse não havia de gostar, não! Mas estava tão farta de estar só! Aborrecia-se tanto! De manhã ainda tinha os arranjos, a costura, a toilette, algum romance... Mas de tarde!
À hora em que Jorge costumava voltar do ministério, a solidão parecia alargar-se em tomo dela. Fazia-lhe tanta falta o seu toque de campainha, os seus passos no corredor!...
Ao crepúsculo, ao ver cair o dia, entristecia-se sem razão, caía numa vaga sentimentalidade: sentava-se ao piano, e os fados tristes, as cavatinas apaixonadas gemiam instintivamente no teclado, sob os seus dedos preguiçosos, no movimento abandonado dos seus braços moles. O que pensava em tolices então! E à noite, só, na larga cama francesa, sem poder dormir com o calor, vinham-lhe de repente terrores, palpites de viuvez.
Não estava acostumada, não podia estar só. Até se lembram de chamar a tia Patrocínio, uma velha parenta pobre que vivia em Belém: ao menos era alguém: mas receou aborrecer-se mais ao pé da sua longa figura de viúva tacituma, sempre a fazer meia, com grandes óculos de’ tartaruga sobre o nariz de águia.
Naquela manhã pensam em Leopoldina, toda contente de ir tagarelar, rir, segredar, passar as horas do calor. Penteava-se em colete e saia branca: a camisinha decotada descobria os ombros alvos duma redondeza macia, o colo branco e tenro, azulado de veiazinhas finas; e os seus braços redondinhos, um pouco vermelhos no cotovelo, descobriam por baixo, quando se erguiam prendendo as tranças, fiozinhos louros, frisando e fazendo ninho.
A sua pele conservava ainda o rosado úmido da água fria: havia no quarto um cheiro agudo de vinagre de toilette: os transparentes de linho branco descidos davam uma luz baça, com tons de leite.
Ah! positivamente devia escrever a Jorge, que voltasse depressa! Que o que tinha graça era ir surpreendê-lo a Évora, cair-lhe no Tabaquinho, um dia, às três horas! E quando ele entrasse empoeirado e encalmado, de lunetas azuis, atirar-se-lhe ao pescoço! E à tardinha, pelo braço dele, ainda quebrada da jornada, com um vestido fresco, ir ver a cidade. Pelas ruas estreitas e tristes admiravam-na muito. Os homens vinham às portas das lojas. Quem seria? É de Lisboa. É a do engenheiro. — E diante do toucador, apertando o comete do vestido, sota àquelas imaginações, e ao seu rosto, no espelho.
A porta do quarto rangeu devagarinho.
— Quem é?
A voz de Juliana, plangente, disse:
— A senhora dá licença que eu vá logo ao médico?
— Vá, mas não se demore. Puxe-me essa saia atrás. Mais. O que é que você tem?
— Enjôos, minha senhora, peso no coração. Passei a noite em claro.
Estava mais amarela, o olhar muito pisado, a face envelhecida. Trazia um vestido de merino preto escoado, e a cuia da semana de cabelos velhos.
— Pois sim, vá — disse Luísa. — Mas arranje tudo antes. E não se demore, hein?
Juliana subiu logo à cozinha. Era no segundo andar, com duas janelas de sacada para as traseiras, larga, ladrilhada de tijolo diante do fogão.

(...)

Luísa desceu o véu branco, calçou devagar as luvas de peau de suède claras, deu duas pancadinhas fofas ao espelho na gravata de renda, e abriu a porta da sala. Mas quase recuou; fez ah! toda escarlate. Tinha-o reconhecido logo. Era o primo Basílio.
Houve um shake-hands demorado, um pouco trêmulo. Estavam ambos calados: — ela com todo o sangue no rosto, um sorriso vago; ele fitando-a muito, com um olhar admirado. Mas as palavras, as perguntas vieram logo, muito precipitadamente: — Quando tinha ele chegado? Se sabia que ele estava em Lisboa? Como soubera a morada dela?
Chegara na véspera no paquete de Bordéus. Perguntara no ministério; disseram-lhe que Jorge estava no Alentejo, deram-lhe a adresse...
— Como tu estás mudada, Santo Deus!
— Velha?
— Bonita!
— Ora!
E ele, que tinha feito? Demorava-se?
Foi abrir uma janela, dar uma luz larga, mais clara. Sentaram-se. Ele no sofá muito languidamente; ela ao pé, pousada de leve à beira de uma poltrona, toda nervosa.
Tinha deixado o degredo — disse ele. — Viera respirar um pouco à velha Europa. Estivera em Constantinopla, na Terra Santa, em Roma. O último ano passara-o em Paris. Vinha de lá, daquela aldeola de Paris. — Falava devagar, recostado, com um ar íntimo, estendendo sobre o tapete, comodamente, os seus sapatos de verniz.
Luísa olhava-o. Achava-o mais varonil, mais trigueiro. No cabelo preto anelado havia agora alguns fios brancos; mas o bigode pequeno tinha o antigo ar moço, orgulhoso e intrépido; os olhos, quando ria, a mesma doçura amolecida, banhada num fluido. Reparou na ferradura de pérola da sua gravata de cetim preto, nas pequeninas estrelas brancas bordadas nas suas meias de seda. A Bahia não o vulgarizara. Voltava mais interessante!
— Mas tu, conta-me de ti! — dizia ele com um sorriso, inclinado para ela. — És feliz, tens um pequerrucho...
— Não — exclamou Luísa rindo — não tenho! Quem te disse?
— Tinham-me dito. E teu marido demora-se?
— Três, quatro semanas, creio.
Quatro semanas! Era uma viuvez! Ofereceu-se logo para a vir ver mais vezes, palrar uni momento, pela manhã...
— Pudera não! És o único parente que tenho agora...
Era verdade!... E a conversação tomou uma intimidade melancólica; falaram da mãe de Luísa, a tia Jojó, como lhe chamava Basílio. Luísa contou a sua morte, muito doce, na poltrona, sem um ar...
— Onde está sepultada? — perguntou Basílio com uma voz grave; e acrescentou, puxando o punho da camisa de chita: — Está no nosso jazigo?
— Está.
— Hei de ir lá. Pobre tia Jojó!
Houve um silêncio.
— Mas tu ias sair! — disse Basílio de repente, querendo erguer-se.
— Não! — exclamou. — Não! Estava aborrecida, não tinha nada que fazer. Ia tomar ar. Não saio, já.
Ele ainda disse:
— Não te prendas...
— Que tolice! Ia à casa de uma amiga passar um momento.
Tirou logo o chapéu; naquele movimento, os braços erguidos repuxaram o corpete justo, as formas do seio acusaram-se suavemente.
Basílio torcia a ponta do bigode devagar; e vendo-a descalçam as luvas:
— Era eu antigamente quem te calçava e descalçava as luvas... Lembras-te?... Ainda tenho esse privilégio exclusivo, creio eu...
Ela riu.
— Decerto que não...
Basílio disse então, lentamente, fitando o chão:
— Ah! Outros tempos!
E pôs-se a falar de Colares: a sua primeira idéia, mal chegara, tinha sido tomar uma tipóia e ir lá; queria ver a quinta; ainda existiria o balouço debaixo do castanheiro? ainda haveria o caramanchão de rosinhas brancas, ao pé do Cupido de gesso que tinha uma asa quebrada?...
Luísa ouvira dizer que a quinta pertencia agora a um brasileiro; sobre a estrada havia um mirante com um teto chinês, ornado de bolas de vidro; e a velha casa morgada fora reconstruída e mobilada pelo Gardé.
— A nossa pobre sala de bilhar, cor de oca, com grinaldas de rosas! disse Basílio; e fitando-a: — Lembras-te das nossas partidas de bilhar?
Luísa, um pouco vermelha, torcia os dedos das luvas; ergueu os olhos para ele; disse sorrindo:
— Éramos duas crianças!
Basílio encolheu tristemente os ombros, fitou as ramagens do tapete; parecia abandonar-se a uma saudade remota, e com uma voz sentida:
— Foi o bom tempo! Foi o meu bom tempo!
Ela via a sua cabeça bem-feita, descaída naquela melancolia das felicidades passadas, com uma risca muito fina, e os cabelos brancos — que lhe dera a separação. Sentia também uma vaga saudade encher-lhe o peito: ergueu-se, foi abrir a outra janela, como para dissipar na luz viva e forte aquela perturbação. Perguntou-lhe então pelas viagens, por Paris, por Constantinopla.
Fora sempre o seu desejo viajar, — dizia — ir ao Oriente. Quereria andar em caravanas, balouçada no dorso dos camelos; e não teria medo, nem do deserto, nem das feras...
— Estás muito valente! — disse Basílio. — Tu eras uma maricas, tinhas medo de tudo... Até da adega, na casa do papá, em Almada!
Ela corou. Lembrava-se bem da adega, com a sua frialdade subterrânea que dava arrepios! A candeia de azeite pendurada na parede alumiava com uma luz avermelhada e fumosa as grossas traves cheias de teias de aranha, e a fileira tenebrosa das pipas bojudas. Havia ali às vezes, pelos cantos, beijos furtados...

(...)

Sabes que te trago presentes?
— Trazes? — E os seus olhos brilhavam.
O melhor era um rosário...
— Um rosário?
— Uma relíquia! Foi benzido primeiro pelo patriarca de Jerusalém sobre o túmulo de Cristo, depois pelo papa...
Ah! Porque tinha estado com o papa! Um velhinho muito asseado, já todo branquinho, vestido de branco, muito amável!

(...)

Luísa voltava entre os dedos o seu medalhão de ouro, preso ao pescoço por uma fita de veludo preto.
— E estiveste então um ano em Paris?
Um ano divino. Tinha um apartamento lindíssimo, que pertencera a Lord Falmouth, Rue Saint Florentin; tinha três cavalos...
E recostando-se muito, com as mãos nos bolsos:
— Enfim, fazer este vale de lágrimas o mais confortável possível!... Dize cá, tens algum retrato nesse medalhão?
— O retrato de meu marido.
— Ah! deixa ver!
Luísa abriu o medalhão. Ele debruçou-se; tinha o rosto quase sobre o peito dela. Luísa sentia o aroma fino que vinha de seus cabelos.
— Muito bem, muito bem! — fez Basílio.
Ficaram calados.
— Que calor que está! — disse Luísa. — Abafa-se, hein!
Levantou-se, foi abrir um pouco uma vidraça. O sol deixara a varanda. Uma aragem suave encheu as pregas grossas das bambinelas.
— E o calor do Brasil — disse ele. — Sabes que estás mais crescida?
Luísa estava de pé. O olhar de Basílio corria-lhe as linhas do corpo; e com a voz muito íntima, os cotovelos sobre os joelhos, o rosto erguido para ela:
— Mas, francamente, dize cá, pensaste que eu te viria ver?
— Ora essa! Realmente, se não viesses zangava-me. Es o meu único parente... O que tenho pena é que meu marido não esteja...
— Eu — acudiu Basílio — foi justamente por ele não estar...
Luísa fez-se escarlate. Basílio emendou logo, um pouco corado também:
— Quero dizer... Talvez ele saiba que houve entre nós...
Ela interrompeu:
— Tolices! Éramos duas crianças. Onde isso vai!
— Eu tinha vinte e sete anos — observou ele, curvando-se.
Ficaram calados, um pouco embaraçados. Basílio cofiava o bigode, olhando vagamente em redor.
— Estás muito bem instalada aqui — disse.
Não estava mal... A casa era pequena, mas muito cômoda. Pertencia-lhes.
— Ah! Estás perfeitamente! Quem é esta senhora, com uma luneta de ouro?
E indicava o retrato por cima do sofá.
— A mãe de meu marido.
— Ah! vive ainda?
— Morreu.
— E o que uma sogra pode fazer de mais amável...
Bocejou ligeiramente, fitou um momento os seus sapatos muito aguçados, e com um movimento brusco, ergueu-se, tomou o chapéu.
— Já? Onde estás?
— No Hotel Central. E até quando?
— Até quando quiseres. Não disseste que vinhas amanhã com o rosário?
Ele tomou-lhe a mão, curvou-se:
— Já não se pode dar um beijo na mão de uma velha prima?
— Por que não?
Pousou-lhe um beijo na mão, muito longo, com uma pressão doce.
— Adeus! — disse.
E a porta, com o reposteiro meio erguido, voltando-se:
— Sabes que eu, ao subir as escadas, vinha a perguntar a mim mesmo, como se vai isto passar?
— Isto quê? Vermo-nos outra vez? Mas, perfeitamente. Que imaginaste tu?
Ele hesitou, sorriu:
— Imaginei que não eras tão boa rapariga. Adeus. Amanhã, hein?
No fundo da escada acendeu o charuto, devagar.
— Que bonita que ela está! — pensou.
E arremessando o fósforo, com força:
— E eu, pedaço de asno, que estava quase decidido a não a vir ver! Está de apetite! Está muito melhor! E sozinha em casa; aborrecidinha talvez!...

PENSE E RESPONDA:

1) O autor prepara a cena do reencontro entre os primos. Descreva o cotidiano de Luísa, depois da partida de Jorge.

2) Basílio percebe o encanto que sua figura e sua conversa causam em Luísa.

a) Que atitudes de Luísa demonstram seu envolvimento com o primo?

b) Retire do texto elementos que revelam que Basílio tira proveito dessa situação.

3) É evidente o contraste entre a personalidade romântica e sonhadora de Luísa e o caráter frio e prático de Basílio.

a) Retire do texto elementos que comprovem esse contraste.

b) Que referências feitas pelo narrador à personalidade de Luísa permitem ao leitor antever o adultério?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

TRABALHO TRIMESTRAL DE REDAÇÃO - 2o COLEGIAL


Para o presente trabalho:

* grupos de, no MÁXIMO, 5 pessoas;
* textos redigidos, criados pelos INTEGRANTES DA EQUIPE;
* utilização de material INÉDITO (proibido COPIAR material da internet);
* apresentação da versão final digitada, diagramada de acordo com os padrões do veículo jornalístico conhecido como REVISTA.

Proposta de criação de uma MINIRREVISTA:

Cada grupo deverá se organizar para compor, no prazo de 4 semanas, uma MINIRREVISTA. Para isso, o primeiro passo de cada equipe será decidir QUE TIPO DE PUBLICAÇÃO gostaria de produzir. Exemplos: revista feminina (moda, beleza, saúde), revista de esportes, revista de atualidades (tipo Veja, Época), revista de curiosidades científicas (tipo Superinteressante), revista de artes (cinema, música, televisão, literatura) ou revista científica (matérias e conteúdo sobre uma área específica do conhecimento humano).
Escolhido o perfil da publicação a ser produzida, a equipe deverá trabalhar seguindo o formato abaixo:

Capa: a revista deverá apresentar uma capa onde todo o seu conteúdo seja anunciado. É aconselhável criar um layout parecido com as revistas em circulação no mercado editorial brasileiro.



Editorial de apresentação: A equipe escreverá um texto de apresentação para a sua revista. Esse texto de apresentação deverá explicar o perfil da publicação e o público ao qual se dirige, apresentando os seus objetivos junto a ele.

Anúncios publicitários: O grupo deverá criar, no mínimo, DOIS textos publicitários para inserir no corpo de sua revista. Usem a criatividade e criem propagandas divertidas e atraentes para o seu público consumidor.

Crônica de abertura: Um dos integrantes da equipe deverá escrever uma crônica para abrir a publicação. O tema da crônica será LIVRE e o escritor também poderá decidir sobre qual formato de crônica utilizará (literária, informativa ou crítica).

Matéria de capa: Será a máteria principal da revista - aquela que é anunciada na capa - e, portanto, merecerá atenção especial do grupo. Matérias bem escritas e ilustradas são fundamentais para uma reportagem de capa.

Matéria secundária: O grupo escolherá um segundo assunto, dentro do seu perfil escolhido, e produzirá uma segunda matéria a respeito dele. Mesmo sendo secundária, a matéria não pode deixar a desejar em relação à matéria de capa; pode, contudo, ser menos extensa e detalhada que ela.

Entrevista: O grupo poderá entrevistar pessoas de seu convívio ou mesmo imaginar uma celebridade a quem gostariam de entrevistar e compor uma entrevista para integrar o corpo da revista. Cada área de atuação terá nomes interessantes como sugestão de entrevista. É aconselhável que, ao produzir esse texto, o grupo faça um levantamento sobre "qual entrevistado renderia maior interesse para a nossa publicação". Excepcionalmente, na parte correspondente à entrevista, fica permitida a reprodução de trechos de textos encontrados na internet - desde que sejam devidamente citadas as suas fontes.

Quadrinhos: A seção de quadrinhos poderá utilizar material já pronto, encontrado na internet, ou mesmo material produzido pelo próprio grupo. Lembrar apenas do seguinte: o tipo de cartum utilizado tem que estar de acordo com o perfil da revista.


PRAZO DE ENTREGA: 05 DE NOVEMBRO DE 2009


PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO


TEMA: Mentira é doença, problema moral, necessidade ou brincadeira?

Em fevereiro de 2009, o mundo ficou espantado com a violência sofrida por uma advogada brasileira em Dübendorf, cidade da Suíça. Ela teria sido agredida e muito machucada por neonazistas, num ataque brutal de xenofobia (desconfiança, temor ou antipatia por estrangeiros). A jovem advogada teria, inclusive, sofrido um aborto de gêmeos, sendo encaminhada para o hospital em estado de choque. Até o presidente Lula declarou publicamente seu horror diante do acontecido. Poucos dias depois, contudo, o mundo inteiro se revoltou, ao descobrir que tudo era uma grande inverdade. Todos nós, certamente, conhecemos vários mentirosos. Por que eles existem? O que é, afinal, a mentira: doença, problema moral, necessidade irresistível, brincadeira? Ou o ato de mentir é provocado por todas essas razões?

Prenda-me se for capaz

Nem sempre a mentira tem perna curta. O filme de Steven Spielberg conta a história real de um mestre do disfarce, Frank Abagnale Jr. (personificado por Leonardo Di Caprio).
Ele fez carreira, aproveitando suas habilidades de grande mentiroso. Mudou várias vezes de identidade e viveu a vida como quis, aplicando golpes milionários, até ser apanhado pela polícia.
O impostor, o estelionatário, muitas vezes, é uma figura sedutora, mas isso não diminui a gravidade de seu crime.

Primeiro de abril!

"O hábito de brincar com essa data é universal. A origem das brincadeiras nesse dia é desconhecida, mas dizem que tudo começou no século 16, com a mudança para o calendário gregoriano, que trocou a comemoração do Ano Novo para 1º de janeiro (antes a data era móvel, variando de 25 de março a 1º de abril). Quem continuava comemorando na antiga data era chamado de "bobo de abril". Na Inglaterra, quem "cai em 1º de abril" é chamado de noodle (pateta). Na França, de poisson d'avril (peixe de abril); nos Estados Unidos, de april fool (bobo de abril)."

[IBGE Teen]

O mitômano ou mentiroso patológico

Mitômano (...) é a pessoa manipuladora e autocentrada que inventa histórias continuamente para conseguir o que quer, com pouca consideração ou respeito pelos interesses dos outros. (...) A causa pode ser mecanismo de defesa ou autoafirmação desenvolvido na primeira infância, associada à alguma desordem mental, caso das personalidades narcísicas ou histriônicas.

[Quando mentir é um problema, reportagem da revista "Época", 19/2/09]

Escritores e a mentira

"A mentira é, muita vez, tão involuntária como a transpiração."
(Machado de Assis)

"A principal mentira é aquela que contamos a nós mesmos".
(Nietzsche)

"Somente as mulheres e os médicos sabem o quanto a mentira é benéfica aos homens."
(Anatole France)

"A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer."
(Mario Quintana)

"Uma mentira dá uma volta ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir".
(Winston Churchill)

Observações:

Seu texto deve ser escrito em língua portuguesa;
Não deve estar redigido em forma de poema (versos) ou narração;
A redação deve ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas escritas;
Não deixe de dar um título a sua redação.