quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO



O que você acha do novo Acordo Ortográfico?

Está em vigor o Acordo Ortográfico que unifica a escrita em todos os países que falam português. Ainda causador de dúvidas e polêmicas, o Acordo mudou a grafia de apenas 0,5% das palavras escritas no Brasil. Para muitas pessoas, esse assunto é indiferente. Mas quem usa obrigatoriamente a ortografia oficial, como professores, jornalistas, redatores, editores, escritores e estudantes, tem muito o que decorar. "Esse Acordo só interessa ao Brasil", já gritaram certos portugueses. "É útil e facilitará o intercâmbio cultural entre países lusófonos", retrucam especialistas. O fato é que até 2012, o país precisa se adequar às novas regras. O que você acha desse Acordo?
Elabore uma dissertação considerando as ideias a seguir:

Bom para a unidade e prestígio dos países?

"Para [Evanildo] Bechara, a reforma ortográfica é necessária para defender a língua portuguesa. Trata-se do único idioma falado por um grupo majoritário - mais de 230 milhões de pessoas - no mundo a ter duas grafias diferentes. É essencial que o português se apresente com uma única vestimenta gráfica. Para manter o prestígio e para que seja mais bem ensinado e compreendido por todos".

[Sylvia Colombo. Folha de S. Paulo. Ilustrada, 29/12/08.]

Somos 230 milhões no mundo


[Veja, Especial, idioma p. 193. São Paulo: Abril. Ed. 2093. Ano 41, nº 52: 31/12/08.]


O (des)acordo ortográfico

"Nesta Folha e em outros veículos, já expressei claramente minha oposição a esse estéril e inoportuno Acordo, cujo custo supera o suposto benefício. Respeito profundamente a posição (...) de homens da estatura e dignidade do lexicógrafo Mauro Villar, [...] e do professor Evanildo Bechara, mas, do baixo da minha insignificância, ouso perguntar: não teria sido melhor esperar que tudo estivesse realmente pronto para "cortar a fita do Acordo?"

[Pasquale Cipro Neto. Folha de S. Paulo. Cotidiano, 1/1/09.]

Um Acordo e várias vozes

•"Buemba!Buemba! [...] Novidades da reforma, ops, do puxadinho ortográfico. Tem um botequim no Rio que tá vendendo lingüiça com trema e linguiça sem trema. Com molho e sem molho! Rárará!"

[José Simão. Folha de S. Paulo. Ilustrada, p. E9. 13/1/09].


•"Pára tudo, tivemos uma idéia ótima. Quer dizer... Para tudo, tivemos uma ideia ótima. Estranho, não? (...) Nós continuaremos a gritar: PARA TUDO! Mas olha como é ruim gritar isso sem acento! O acento confere drama, pressa, desespero. E não, não deixaremos de ser desesperadas nem dramáticas (...).. Mas teremos de escrever desse jeito, porque é o que manda a reforma ortográfica que começa a funcionar (...).

[Jô Hallack, Nina Lemos, Raq Affonso. (02 Neurônios) Folha de S. Paulo. Folhateen, 6/10/08.]

•[...] Vou sentir falta da velha ortografia, uma falta nada nostálgica, mas visual. "O voo, sem o circunflexo, parece que ficou mais raso e pesado.(...). E o que dizer da nova 'ideia'? Sem o acento agudo tornou-se grave, fechada (...). E os tremas, esses dois pontinhos suspensos, olhinhos fixos que davam tanta graça e elegância à letra 'u'?

[Milton Hatoum. O Estado de S. Paulo. Caderno 2, 9/1/09]

•[...] O atroz dilema do hífen (co-abitar ou coabitar?), o degredo do acento agudo de palavras como jiboia e averigue e a horrível morte de certos circunflexos estão levando gramáticos às fuças.(...). Sem o chapeuzinho, por exemplo, como conjugar verbos como coar e moer? Eu coo, eu moo? (...) Enquanto isso, os dois inocentes pontinhos sobre linguiça, quinquênio, pinguim etc foram varridos pelos linguístas sem a menor contemplação...

[Ruy Castro. Folha de S. Paulo, Opinião. 10/1/08.]

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO


"Selinho" é inocente ou tem significado sexual?

No mês de setembro de 2009, foi preso em Fortaleza um turista italiano, por ter dado um beijo nos lábios da filha de 8 anos. Esse "caso de polícia" fez com que se discutisse a atitude cultural do "selinho" que, para muitas pessoas, tem forte conotação sexual, principalmente entre pais e filhos. Segundo a esposa brasileira, indignada com a prisão do marido, essa é apenas uma forma inocente que se usa na família deles para demonstrar afeto. De fato, até amigos trocam um "selinho", de vez em quando. A questão é: a moda do selinho é inocente? Ou ele deve ser evitado, pois tem apelo sexual? O que você acha?

O "selinho" em risco

"O 'selinho' está na boca (fechada) da galera. A modalidade de beijo em que lábios se tocam de leve, se praticada entre pais e filhos, pode ocupar lugar no banco dos réus. Igor Bahia, 17, já foi acusado [...] de delito parecido com o do italiano [de Recife]. [Beijava] a mãe na rua quando algumas pessoas sugeriram, maldosamente, que não eram parentes. Ele é negro. Ela, branca. Ygor diz que prefere deixar o episódio 'para trás'. Mas que não desistiu de mostrar amor como aprendeu em casa, com 'selinhos' e chamegos."

[Folhateen. 14/09/2009]


Selinho, sim, mas só para poucos

"[...] Hebe Camargo, toda animada, pediu a Silvio Santos um 'selinho' (beijinho). Não ganhou: 'Nem selinho, nem selo, nem selão', ouviu dele, categórico. Em seguida, Gilberto Gil entrou no palco, de mão estendida para cumprimentá-lo. O que fez o apresentador? Disse 'selinho', esticou os lábios e zás - tascou um beijinho na boca do músico. A cena foi ao ar de madrugada [do programa de novembro], no encerramento do Teleton, a maratona beneficente exibida pelo SBT. Gil ficou surpreso, Hebe fingiu brabeza e Silvio riu muito. 'Tirei uma onda, foi só uma bicotinha', diz ele. "Tudo tem uma primeira vez'."

[Revista Veja, n. 1.725, 7 de novembro de 2001]

Entre pais e filhos pode ser ambíguo ou perigoso

"A psicóloga da USP Leila Tardivo aconselha a evitar contato físico ou visual que possa ser mal-interpretado pelos filhos. 'Confundir amor com sexo é um risco, ainda mais na idade em que os desejos crescem. Pais não devem falar de sua vida sexual, nem expô-la. Pai que quer ser só amigo dos filhos faz, na realidade, [com] que esses jovens fiquem 'orfãos' [...]."
" 'Precisaríamos de uma bola de cristal para saber se a intenção de um selinho é sexual ou não' - diz o desembargador da Infância e da Juventude Antônio Malheiros, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Malheiros admite que beijos, carinho paterno e hábitos como andar nu em casa são [uma] 'zona cinzenta' para o direito."

[Folhateen, 14/09/2009]

Selinhos e agressão

Dois homens, um de 30 anos e outro de 19, que se cumprimentaram com um beijo tipo "selinho", foram agredidos no Rio de Janeiro. A violência aconteceu em março deste ano, de madrugada, na escadaria de Santa Teresa, na Lapa. As vítimas contaram que, após o cumprimento, um grupo de dez pessoas os ameaçou e um deles levou "socos e chutes". Eles alegam também que a Polícia Militar negou socorro. Militante da ONG Arco-Íris e superintendente estadual de direitos individuais, coletivos e difusos, Cláudio Nascimento notificou a Secretaria da Segurança Pública, a Ouvidoria da PM e o comando do 13º BPM (centro), responsável pela área, pedindo providências.

Observações:

•Seu texto deve ser escrito em língua portuguesa;
•Não deve estar redigido em forma de poema (versos) ou narração;
•A redação deve ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas escritas;
•Não deixe de dar um título a sua redação.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

REALISMO BRASILEIRO: MACHADO DE ASSIS



ATIVIDADE

Depois de ter lido esse brilhante conto machadiano, responda: sob qual perspectiva o autor aborda as suas personagens? Qual é seu maior objetivo nessa narrativa? Quais características presentes nesse conto nos permitem associá-lo à estética realista?

domingo, 4 de outubro de 2009

REALISMO PORTUGUÊS: EÇA DE QUEIRÓS


José Maria Eça de Queirós nasceu em Póvoa do Varzim, em 1845. Passou a infância e juventude longe dos pais, pois estes não eram casados. Estudou direito na Universidade de Coimbra. Ligou-se por essa ocasião ao grupo renovador chamado “Escola de Coimbra”, responsável pela introdução do Realismo em Portugal.
Eça não participou diretamente da “Questão Coimbrã” - 1865 - , a polêmica em que jovens defensores de novas idéias literárias , artísticas e filosóficas liderados por Antero de Quental , se defrontaram com os velhos românticos, ultrapassados e conservadores, liderados por Visconde de Castilho.
Dedicou-se ao jornalismo depois de formado , e viajou pelo Oriente. Em 1871, participou das “Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense” – nova etapa da campanha que implantou em Portugal as novas perspectivas culturais do Realismo falando sobre o “Realismo como nova expressão da arte”.
Eça de Queirós e o representante maior da prosa realista em Portugal. Grande renovador do romance , abandonou a linha romântica , e estabeleceu uma visão critica da realidade. Afastou-se do estilo clássico , que pendurou por muito tempo na obra de diversos autores românticos , deu a frase uma maior simplicidade , mudando a sintaxe e inovando na combinação das palavras. Evitou a retórica tradicional e os lugares comuns , criou novas formas de dizer , introduziu neologismos e, principalmente utilizou o adjetivo de maneira inédita e expressiva. Este novo estilo só teve antecessor em Almeida Garrett e valeu a Eça a acusação de galicismo e estabeleceu os fundamentos da prosa moderna da Língua Portuguesa.
Enfim , no dia 16 de Agosto de 1900 Eça morre em Paris. Deixava um episódio literário que veio a ser publicado aos poucos.

O PRIMO BASÍLIO

O romance "O primo Basílio", de Eça de Queirós, critica a família pequeno-burguesa de Lisboa. Luísa, educada sob influência de frouxos princípios morais e religiosos, romântica e imaginativa por natureza e que sempre tivera uma vida ociosa, casa-se com Jorge, homem bom, inteligente e simpático. Na primeira ausência do marido, Luísa o trai, seduzida por Basílio, seu primo e antigo namorado, recém-chegado a Lisboa. Juliana, sua criada, apodera-se de algumas cartas de Basílio a Luísa e passa a chantagear a patroa. Basílio desaparece, deixando Luísa entregue aos caprichos e exigências de Juliana. Sebastião, um amigo da família, consegue reaver as cartas. Jorge regressa. Luísa adoece e morre. Jorge, então, descobre-lhe a infidelidade.


EXERCÍCIO:

Este é um fragmento do capítulo III da obra, quando ocorre o reencontro de Basílio e Luísa:

CAPÍTULO III

Havia doze dias que Jorge tinha partido e, apesar do calor e da poeira, Luísa vestia-se para ir à casa de Leopoldina. Se Jorge soubesse não havia de gostar, não! Mas estava tão farta de estar só! Aborrecia-se tanto! De manhã ainda tinha os arranjos, a costura, a toilette, algum romance... Mas de tarde!
À hora em que Jorge costumava voltar do ministério, a solidão parecia alargar-se em tomo dela. Fazia-lhe tanta falta o seu toque de campainha, os seus passos no corredor!...
Ao crepúsculo, ao ver cair o dia, entristecia-se sem razão, caía numa vaga sentimentalidade: sentava-se ao piano, e os fados tristes, as cavatinas apaixonadas gemiam instintivamente no teclado, sob os seus dedos preguiçosos, no movimento abandonado dos seus braços moles. O que pensava em tolices então! E à noite, só, na larga cama francesa, sem poder dormir com o calor, vinham-lhe de repente terrores, palpites de viuvez.
Não estava acostumada, não podia estar só. Até se lembram de chamar a tia Patrocínio, uma velha parenta pobre que vivia em Belém: ao menos era alguém: mas receou aborrecer-se mais ao pé da sua longa figura de viúva tacituma, sempre a fazer meia, com grandes óculos de’ tartaruga sobre o nariz de águia.
Naquela manhã pensam em Leopoldina, toda contente de ir tagarelar, rir, segredar, passar as horas do calor. Penteava-se em colete e saia branca: a camisinha decotada descobria os ombros alvos duma redondeza macia, o colo branco e tenro, azulado de veiazinhas finas; e os seus braços redondinhos, um pouco vermelhos no cotovelo, descobriam por baixo, quando se erguiam prendendo as tranças, fiozinhos louros, frisando e fazendo ninho.
A sua pele conservava ainda o rosado úmido da água fria: havia no quarto um cheiro agudo de vinagre de toilette: os transparentes de linho branco descidos davam uma luz baça, com tons de leite.
Ah! positivamente devia escrever a Jorge, que voltasse depressa! Que o que tinha graça era ir surpreendê-lo a Évora, cair-lhe no Tabaquinho, um dia, às três horas! E quando ele entrasse empoeirado e encalmado, de lunetas azuis, atirar-se-lhe ao pescoço! E à tardinha, pelo braço dele, ainda quebrada da jornada, com um vestido fresco, ir ver a cidade. Pelas ruas estreitas e tristes admiravam-na muito. Os homens vinham às portas das lojas. Quem seria? É de Lisboa. É a do engenheiro. — E diante do toucador, apertando o comete do vestido, sota àquelas imaginações, e ao seu rosto, no espelho.
A porta do quarto rangeu devagarinho.
— Quem é?
A voz de Juliana, plangente, disse:
— A senhora dá licença que eu vá logo ao médico?
— Vá, mas não se demore. Puxe-me essa saia atrás. Mais. O que é que você tem?
— Enjôos, minha senhora, peso no coração. Passei a noite em claro.
Estava mais amarela, o olhar muito pisado, a face envelhecida. Trazia um vestido de merino preto escoado, e a cuia da semana de cabelos velhos.
— Pois sim, vá — disse Luísa. — Mas arranje tudo antes. E não se demore, hein?
Juliana subiu logo à cozinha. Era no segundo andar, com duas janelas de sacada para as traseiras, larga, ladrilhada de tijolo diante do fogão.

(...)

Luísa desceu o véu branco, calçou devagar as luvas de peau de suède claras, deu duas pancadinhas fofas ao espelho na gravata de renda, e abriu a porta da sala. Mas quase recuou; fez ah! toda escarlate. Tinha-o reconhecido logo. Era o primo Basílio.
Houve um shake-hands demorado, um pouco trêmulo. Estavam ambos calados: — ela com todo o sangue no rosto, um sorriso vago; ele fitando-a muito, com um olhar admirado. Mas as palavras, as perguntas vieram logo, muito precipitadamente: — Quando tinha ele chegado? Se sabia que ele estava em Lisboa? Como soubera a morada dela?
Chegara na véspera no paquete de Bordéus. Perguntara no ministério; disseram-lhe que Jorge estava no Alentejo, deram-lhe a adresse...
— Como tu estás mudada, Santo Deus!
— Velha?
— Bonita!
— Ora!
E ele, que tinha feito? Demorava-se?
Foi abrir uma janela, dar uma luz larga, mais clara. Sentaram-se. Ele no sofá muito languidamente; ela ao pé, pousada de leve à beira de uma poltrona, toda nervosa.
Tinha deixado o degredo — disse ele. — Viera respirar um pouco à velha Europa. Estivera em Constantinopla, na Terra Santa, em Roma. O último ano passara-o em Paris. Vinha de lá, daquela aldeola de Paris. — Falava devagar, recostado, com um ar íntimo, estendendo sobre o tapete, comodamente, os seus sapatos de verniz.
Luísa olhava-o. Achava-o mais varonil, mais trigueiro. No cabelo preto anelado havia agora alguns fios brancos; mas o bigode pequeno tinha o antigo ar moço, orgulhoso e intrépido; os olhos, quando ria, a mesma doçura amolecida, banhada num fluido. Reparou na ferradura de pérola da sua gravata de cetim preto, nas pequeninas estrelas brancas bordadas nas suas meias de seda. A Bahia não o vulgarizara. Voltava mais interessante!
— Mas tu, conta-me de ti! — dizia ele com um sorriso, inclinado para ela. — És feliz, tens um pequerrucho...
— Não — exclamou Luísa rindo — não tenho! Quem te disse?
— Tinham-me dito. E teu marido demora-se?
— Três, quatro semanas, creio.
Quatro semanas! Era uma viuvez! Ofereceu-se logo para a vir ver mais vezes, palrar uni momento, pela manhã...
— Pudera não! És o único parente que tenho agora...
Era verdade!... E a conversação tomou uma intimidade melancólica; falaram da mãe de Luísa, a tia Jojó, como lhe chamava Basílio. Luísa contou a sua morte, muito doce, na poltrona, sem um ar...
— Onde está sepultada? — perguntou Basílio com uma voz grave; e acrescentou, puxando o punho da camisa de chita: — Está no nosso jazigo?
— Está.
— Hei de ir lá. Pobre tia Jojó!
Houve um silêncio.
— Mas tu ias sair! — disse Basílio de repente, querendo erguer-se.
— Não! — exclamou. — Não! Estava aborrecida, não tinha nada que fazer. Ia tomar ar. Não saio, já.
Ele ainda disse:
— Não te prendas...
— Que tolice! Ia à casa de uma amiga passar um momento.
Tirou logo o chapéu; naquele movimento, os braços erguidos repuxaram o corpete justo, as formas do seio acusaram-se suavemente.
Basílio torcia a ponta do bigode devagar; e vendo-a descalçam as luvas:
— Era eu antigamente quem te calçava e descalçava as luvas... Lembras-te?... Ainda tenho esse privilégio exclusivo, creio eu...
Ela riu.
— Decerto que não...
Basílio disse então, lentamente, fitando o chão:
— Ah! Outros tempos!
E pôs-se a falar de Colares: a sua primeira idéia, mal chegara, tinha sido tomar uma tipóia e ir lá; queria ver a quinta; ainda existiria o balouço debaixo do castanheiro? ainda haveria o caramanchão de rosinhas brancas, ao pé do Cupido de gesso que tinha uma asa quebrada?...
Luísa ouvira dizer que a quinta pertencia agora a um brasileiro; sobre a estrada havia um mirante com um teto chinês, ornado de bolas de vidro; e a velha casa morgada fora reconstruída e mobilada pelo Gardé.
— A nossa pobre sala de bilhar, cor de oca, com grinaldas de rosas! disse Basílio; e fitando-a: — Lembras-te das nossas partidas de bilhar?
Luísa, um pouco vermelha, torcia os dedos das luvas; ergueu os olhos para ele; disse sorrindo:
— Éramos duas crianças!
Basílio encolheu tristemente os ombros, fitou as ramagens do tapete; parecia abandonar-se a uma saudade remota, e com uma voz sentida:
— Foi o bom tempo! Foi o meu bom tempo!
Ela via a sua cabeça bem-feita, descaída naquela melancolia das felicidades passadas, com uma risca muito fina, e os cabelos brancos — que lhe dera a separação. Sentia também uma vaga saudade encher-lhe o peito: ergueu-se, foi abrir a outra janela, como para dissipar na luz viva e forte aquela perturbação. Perguntou-lhe então pelas viagens, por Paris, por Constantinopla.
Fora sempre o seu desejo viajar, — dizia — ir ao Oriente. Quereria andar em caravanas, balouçada no dorso dos camelos; e não teria medo, nem do deserto, nem das feras...
— Estás muito valente! — disse Basílio. — Tu eras uma maricas, tinhas medo de tudo... Até da adega, na casa do papá, em Almada!
Ela corou. Lembrava-se bem da adega, com a sua frialdade subterrânea que dava arrepios! A candeia de azeite pendurada na parede alumiava com uma luz avermelhada e fumosa as grossas traves cheias de teias de aranha, e a fileira tenebrosa das pipas bojudas. Havia ali às vezes, pelos cantos, beijos furtados...

(...)

Sabes que te trago presentes?
— Trazes? — E os seus olhos brilhavam.
O melhor era um rosário...
— Um rosário?
— Uma relíquia! Foi benzido primeiro pelo patriarca de Jerusalém sobre o túmulo de Cristo, depois pelo papa...
Ah! Porque tinha estado com o papa! Um velhinho muito asseado, já todo branquinho, vestido de branco, muito amável!

(...)

Luísa voltava entre os dedos o seu medalhão de ouro, preso ao pescoço por uma fita de veludo preto.
— E estiveste então um ano em Paris?
Um ano divino. Tinha um apartamento lindíssimo, que pertencera a Lord Falmouth, Rue Saint Florentin; tinha três cavalos...
E recostando-se muito, com as mãos nos bolsos:
— Enfim, fazer este vale de lágrimas o mais confortável possível!... Dize cá, tens algum retrato nesse medalhão?
— O retrato de meu marido.
— Ah! deixa ver!
Luísa abriu o medalhão. Ele debruçou-se; tinha o rosto quase sobre o peito dela. Luísa sentia o aroma fino que vinha de seus cabelos.
— Muito bem, muito bem! — fez Basílio.
Ficaram calados.
— Que calor que está! — disse Luísa. — Abafa-se, hein!
Levantou-se, foi abrir um pouco uma vidraça. O sol deixara a varanda. Uma aragem suave encheu as pregas grossas das bambinelas.
— E o calor do Brasil — disse ele. — Sabes que estás mais crescida?
Luísa estava de pé. O olhar de Basílio corria-lhe as linhas do corpo; e com a voz muito íntima, os cotovelos sobre os joelhos, o rosto erguido para ela:
— Mas, francamente, dize cá, pensaste que eu te viria ver?
— Ora essa! Realmente, se não viesses zangava-me. Es o meu único parente... O que tenho pena é que meu marido não esteja...
— Eu — acudiu Basílio — foi justamente por ele não estar...
Luísa fez-se escarlate. Basílio emendou logo, um pouco corado também:
— Quero dizer... Talvez ele saiba que houve entre nós...
Ela interrompeu:
— Tolices! Éramos duas crianças. Onde isso vai!
— Eu tinha vinte e sete anos — observou ele, curvando-se.
Ficaram calados, um pouco embaraçados. Basílio cofiava o bigode, olhando vagamente em redor.
— Estás muito bem instalada aqui — disse.
Não estava mal... A casa era pequena, mas muito cômoda. Pertencia-lhes.
— Ah! Estás perfeitamente! Quem é esta senhora, com uma luneta de ouro?
E indicava o retrato por cima do sofá.
— A mãe de meu marido.
— Ah! vive ainda?
— Morreu.
— E o que uma sogra pode fazer de mais amável...
Bocejou ligeiramente, fitou um momento os seus sapatos muito aguçados, e com um movimento brusco, ergueu-se, tomou o chapéu.
— Já? Onde estás?
— No Hotel Central. E até quando?
— Até quando quiseres. Não disseste que vinhas amanhã com o rosário?
Ele tomou-lhe a mão, curvou-se:
— Já não se pode dar um beijo na mão de uma velha prima?
— Por que não?
Pousou-lhe um beijo na mão, muito longo, com uma pressão doce.
— Adeus! — disse.
E a porta, com o reposteiro meio erguido, voltando-se:
— Sabes que eu, ao subir as escadas, vinha a perguntar a mim mesmo, como se vai isto passar?
— Isto quê? Vermo-nos outra vez? Mas, perfeitamente. Que imaginaste tu?
Ele hesitou, sorriu:
— Imaginei que não eras tão boa rapariga. Adeus. Amanhã, hein?
No fundo da escada acendeu o charuto, devagar.
— Que bonita que ela está! — pensou.
E arremessando o fósforo, com força:
— E eu, pedaço de asno, que estava quase decidido a não a vir ver! Está de apetite! Está muito melhor! E sozinha em casa; aborrecidinha talvez!...

PENSE E RESPONDA:

1) O autor prepara a cena do reencontro entre os primos. Descreva o cotidiano de Luísa, depois da partida de Jorge.

2) Basílio percebe o encanto que sua figura e sua conversa causam em Luísa.

a) Que atitudes de Luísa demonstram seu envolvimento com o primo?

b) Retire do texto elementos que revelam que Basílio tira proveito dessa situação.

3) É evidente o contraste entre a personalidade romântica e sonhadora de Luísa e o caráter frio e prático de Basílio.

a) Retire do texto elementos que comprovem esse contraste.

b) Que referências feitas pelo narrador à personalidade de Luísa permitem ao leitor antever o adultério?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

TRABALHO TRIMESTRAL DE REDAÇÃO - 2o COLEGIAL


Para o presente trabalho:

* grupos de, no MÁXIMO, 5 pessoas;
* textos redigidos, criados pelos INTEGRANTES DA EQUIPE;
* utilização de material INÉDITO (proibido COPIAR material da internet);
* apresentação da versão final digitada, diagramada de acordo com os padrões do veículo jornalístico conhecido como REVISTA.

Proposta de criação de uma MINIRREVISTA:

Cada grupo deverá se organizar para compor, no prazo de 4 semanas, uma MINIRREVISTA. Para isso, o primeiro passo de cada equipe será decidir QUE TIPO DE PUBLICAÇÃO gostaria de produzir. Exemplos: revista feminina (moda, beleza, saúde), revista de esportes, revista de atualidades (tipo Veja, Época), revista de curiosidades científicas (tipo Superinteressante), revista de artes (cinema, música, televisão, literatura) ou revista científica (matérias e conteúdo sobre uma área específica do conhecimento humano).
Escolhido o perfil da publicação a ser produzida, a equipe deverá trabalhar seguindo o formato abaixo:

Capa: a revista deverá apresentar uma capa onde todo o seu conteúdo seja anunciado. É aconselhável criar um layout parecido com as revistas em circulação no mercado editorial brasileiro.



Editorial de apresentação: A equipe escreverá um texto de apresentação para a sua revista. Esse texto de apresentação deverá explicar o perfil da publicação e o público ao qual se dirige, apresentando os seus objetivos junto a ele.

Anúncios publicitários: O grupo deverá criar, no mínimo, DOIS textos publicitários para inserir no corpo de sua revista. Usem a criatividade e criem propagandas divertidas e atraentes para o seu público consumidor.

Crônica de abertura: Um dos integrantes da equipe deverá escrever uma crônica para abrir a publicação. O tema da crônica será LIVRE e o escritor também poderá decidir sobre qual formato de crônica utilizará (literária, informativa ou crítica).

Matéria de capa: Será a máteria principal da revista - aquela que é anunciada na capa - e, portanto, merecerá atenção especial do grupo. Matérias bem escritas e ilustradas são fundamentais para uma reportagem de capa.

Matéria secundária: O grupo escolherá um segundo assunto, dentro do seu perfil escolhido, e produzirá uma segunda matéria a respeito dele. Mesmo sendo secundária, a matéria não pode deixar a desejar em relação à matéria de capa; pode, contudo, ser menos extensa e detalhada que ela.

Entrevista: O grupo poderá entrevistar pessoas de seu convívio ou mesmo imaginar uma celebridade a quem gostariam de entrevistar e compor uma entrevista para integrar o corpo da revista. Cada área de atuação terá nomes interessantes como sugestão de entrevista. É aconselhável que, ao produzir esse texto, o grupo faça um levantamento sobre "qual entrevistado renderia maior interesse para a nossa publicação". Excepcionalmente, na parte correspondente à entrevista, fica permitida a reprodução de trechos de textos encontrados na internet - desde que sejam devidamente citadas as suas fontes.

Quadrinhos: A seção de quadrinhos poderá utilizar material já pronto, encontrado na internet, ou mesmo material produzido pelo próprio grupo. Lembrar apenas do seguinte: o tipo de cartum utilizado tem que estar de acordo com o perfil da revista.


PRAZO DE ENTREGA: 05 DE NOVEMBRO DE 2009


PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO


TEMA: Mentira é doença, problema moral, necessidade ou brincadeira?

Em fevereiro de 2009, o mundo ficou espantado com a violência sofrida por uma advogada brasileira em Dübendorf, cidade da Suíça. Ela teria sido agredida e muito machucada por neonazistas, num ataque brutal de xenofobia (desconfiança, temor ou antipatia por estrangeiros). A jovem advogada teria, inclusive, sofrido um aborto de gêmeos, sendo encaminhada para o hospital em estado de choque. Até o presidente Lula declarou publicamente seu horror diante do acontecido. Poucos dias depois, contudo, o mundo inteiro se revoltou, ao descobrir que tudo era uma grande inverdade. Todos nós, certamente, conhecemos vários mentirosos. Por que eles existem? O que é, afinal, a mentira: doença, problema moral, necessidade irresistível, brincadeira? Ou o ato de mentir é provocado por todas essas razões?

Prenda-me se for capaz

Nem sempre a mentira tem perna curta. O filme de Steven Spielberg conta a história real de um mestre do disfarce, Frank Abagnale Jr. (personificado por Leonardo Di Caprio).
Ele fez carreira, aproveitando suas habilidades de grande mentiroso. Mudou várias vezes de identidade e viveu a vida como quis, aplicando golpes milionários, até ser apanhado pela polícia.
O impostor, o estelionatário, muitas vezes, é uma figura sedutora, mas isso não diminui a gravidade de seu crime.

Primeiro de abril!

"O hábito de brincar com essa data é universal. A origem das brincadeiras nesse dia é desconhecida, mas dizem que tudo começou no século 16, com a mudança para o calendário gregoriano, que trocou a comemoração do Ano Novo para 1º de janeiro (antes a data era móvel, variando de 25 de março a 1º de abril). Quem continuava comemorando na antiga data era chamado de "bobo de abril". Na Inglaterra, quem "cai em 1º de abril" é chamado de noodle (pateta). Na França, de poisson d'avril (peixe de abril); nos Estados Unidos, de april fool (bobo de abril)."

[IBGE Teen]

O mitômano ou mentiroso patológico

Mitômano (...) é a pessoa manipuladora e autocentrada que inventa histórias continuamente para conseguir o que quer, com pouca consideração ou respeito pelos interesses dos outros. (...) A causa pode ser mecanismo de defesa ou autoafirmação desenvolvido na primeira infância, associada à alguma desordem mental, caso das personalidades narcísicas ou histriônicas.

[Quando mentir é um problema, reportagem da revista "Época", 19/2/09]

Escritores e a mentira

"A mentira é, muita vez, tão involuntária como a transpiração."
(Machado de Assis)

"A principal mentira é aquela que contamos a nós mesmos".
(Nietzsche)

"Somente as mulheres e os médicos sabem o quanto a mentira é benéfica aos homens."
(Anatole France)

"A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer."
(Mario Quintana)

"Uma mentira dá uma volta ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir".
(Winston Churchill)

Observações:

Seu texto deve ser escrito em língua portuguesa;
Não deve estar redigido em forma de poema (versos) ou narração;
A redação deve ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas escritas;
Não deixe de dar um título a sua redação.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO


A virgindade é um valor moral a ser preservado?

Tanto a vida sexual precoce de muitos adolescentes quanto a opção pela virgindade são motivo de polêmicas. Nestes tempos de tolerância, ou permissividade, a castidade até o casamento volta a ser valorizada pelos jovens, como era por seus bisavós. Numa inversão de papéis, muitos pais da geração dos anos 1960 consideram seus filhos conservadores. Outros suspiram aliviados, ou porque são religiosos, ou porque têm medo de doenças sexualmente transmissíveis, ou, ainda, porque acham que a virgindade é sinal de juízo. Entre os jovens, há guerras de opinião em blogs e comunidades da internet. E você, o que acha? A virgindade até o casamento é ou não importante para o relacionamento de um casal?

Elabore uma dissertação considerando as ideias a seguir:

Pureza: Jonas Brothers usam anel de virgindade

"Nós prometemos a nós mesmos e a Deus manter a virgindade até o casamento", declarou à imprensa Nick Jonas, integrante da banda americana teen mais famosa do momento. "É legal sermos reconhecidos como bons garotos", diz ele. Os irmãos Jonas são norte-americanos, roqueiros, evangélicos. A originalidade do grupo é a convicção da virgindade masculina, que é simbolizada pelos anéis de pureza nos dedos dos três irmãos. Apesar disso, as fãs, com gritos histéricos, querem beijá-los, abraçá-los ou manter qualquer tipo de contato físico com seus ídolos.

Precocidade e liberdade: mas em casa?

A geração de pais que fez a revolução sexual está confusa [...]. Os adolescentes de hoje são filhos da geração que se casou no final da década de 1970 [quando] estavam em alta o relacionamento liberal, o sexo livre e a contestação à ordem social. É gente que deu liberdade aos filhos, mas não incluiu aí modelo de comportamento sexual. [...]. O mais surpreendente não é a idade em que acontece a iniciação, mas onde: na casa da família.[...]. O garoto dorme com a namorada e tem o apoio explícito dos pais e amigos. A menina [...] não corre o risco de ser espancada porque fez sexo fora do casamento. Ao contrário, para muitos pais é motivo de alívio saber que se trata de um namoradinho conhecido e sadio. Pais tranquilos? Mais honesto é dizer que se resignaram ao mal menor. "A garotada encara a primeira vez como algo inevitável no desenvolvimento de qualquer pessoa", diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade, da Universidade de São Paulo.

[Veja On-line]

O tabu da virgindade hoje

A revolução de costumes e valores pela qual o mundo passou ao fim dos anos 1960 retirou o caráter sagrado da virgindade. Mesmo assim, deixar de ser virgem ainda é uma questão íntima e delicada para muitos adolescentes de ambos os sexos. Os jovens, em geral, reconhecem que a virgindade é uma condição que depende apenas da escolha pessoal. A liberdade de costumes permite que eles deem início à vida amorosa no período do namoro. Por outro lado, ainda existem resquícios do velho código moral que convivem lado a lado com os mais recentes modismos.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, de José de Alencar.

Como se sabe, Iracema é a virgem dos lábios de mel e tem os cabelos mais negros que as asas da graúna. A virgindade física de Iracema se sustenta pela sua posição religiosa na tribo, pois ela é a "sacerdotisa de Tupã". Sua extrema paixão pelo português Martim, entretanto, é mais forte que os valores tabajaras, que ela transgredirá: inundada de amor, dá a ele o licor de jurema, na verdade um alucinógeno que lhe permite entregar-se ao amado sem que este tenha consciência da transgressão. Iracema sabe que, depois da entrega, só lhe restará abandonar sua tribo e seus valores...

[Expressões culturais no tempo e no espaço; Márcia Lígia Guidin, Pueri Domus Escolas Associadas, 2000]

Observações:

•Seu texto deve ser escrito em língua portuguesa;
•Não deve estar redigido em forma de poema (versos) ou narração;
•A redação deve ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas escritas;
•Não deixe de dar um título a sua redação;

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO


TEMA PROPOSTO: A efemeridade/transitoriedade dos fatos, dos valores, das relações e seus efeitos sobre o ser humano dos nossos dias.

Verificamos, hoje em dia, que tudo pode ser acessado de imediato, mas é efêmero / transitório: pode acabar instantaneamente ou ser substituído na mesma velocidade com que foi descoberto, experimentado ou vivido. Podemos, desta forma, chegar à constatação de que estamos envolvidos em relações de superficialidade, em acúmulo de tarefas e imersos numa constante “falta de tempo”. As pessoas sentem-se “perdidas” dentro do caos da modernidade e têm dificuldade para estabelecer relações saudáveis com o que quer que seja: trabalho, família, sua saúde ou nos relacionamentos em geral.
A velocidade com que as mudanças e os fatos acontecem no nosso dia-a-dia gera um forte sentimento de instabilidade e insegurança, nos levando a refletir sobre quão superficiais ou mesmo “descartáveis” tornaram-se também as nossas necessidades no mundo atual. Temos dificuldades em estabelecer valores autênticos, iludidos e influenciados que somos pela chamada “cultura digital” e também pela crescente “homogeneidade”, imposta pela globalização, que nos faz perder de vista heranças culturais e comportamentais, deixadas em segundo plano, provocando uma perda de identidade que, se não for freada a tempo, pode nos causar danos irreversíveis e bastante tristes a longo prazo.
Guiados pela mídia e bombardeados pelas idéias consumistas, começamos a valorizar e a buscar coisas que, na verdade, estão longe de serem realmente importantes para nossas vidas porque passageiras e irrelevantes. Mudamos nossas cabeças, mudamos nosso comportamento e a eterna sensação de “vazio” ainda nos persegue: sem objetivos reais, somos constantemente vitimados pela nossa própria visão distorcida e invertida da realidade.

Você já parou para pensar sobre isso?

Para auxiliar sua reflexão, leia os textos abaixo e, a seguir, norteando-se por eles, produza um texto dissertativo, com cerca de 25/30 linhas, em que você desenvolva o tema proposto de forma clara, coerente e com argumentação bem fundamentada. Não se esqueça de dar um título adequado ao seu texto.

Texto 1

"Nunca a questão do olhar esteve tão no centro do debate da cultura e das sociedades contemporâneas. Um mundo onde tudo é produzido para ser visto, onde tudo se mostra ao olhar, coloca necessariamente o ver como um problema. Aqui não existem mais véus nem mistérios. Vivemos no universo da sobreexposição e da obscenidade, saturado de clichês, onde a banalização e a descartabilidade das coisas e imagens foi levada ao extremo. (...) O indivíduo contemporâneo é, em primeiro lugar, um passageiro metropolitano: em permanente movimento, cada vez mais longe, cada vez mais rápido. (...) A velocidade provoca, para aquele que avança num veículo, um achatamento da paisagem. Quanto mais rápido o movimento, menos profundidade as coisas têm, mais chapadas ficam, como se estivessem contra um muro, contra uma tela. A cidade contemporânea corresponderia a este novo olhar. Os seus prédios e habitantes passariam pelo mesmo processo de superficialização, a paisagem urbana se confundindo com out-doors. O mundo se converte num cenário, os indivíduos em personagens."

PEIXOTO, Nelson Brissac. O olhar do estrangeiro. In: NOVAES, Adauto. (Org.) O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 361.

Texto 2

“ (...) Parece claro que o mundo está passando por uma reconfiguração. Os efeitos das profundas transformações provocadas pela cultura digital sobre a formação de identidades, as questões éticas e a variação de papéis sociais do indivíduo contemporâneo foram abordados pelas duas principais estrelas do seminário no Rio, os filósofos franceses Jean Baudrillard e Edgar Morin. Baudrillard, autor de ensaios sempre provocativos como A transparência do mal, A ilusão do fim e O crime perfeito, aproveitou para lançar seu novíssimo livro, Tower inferno, que analisa os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Uma curiosidade é que o pensador foi citado/ homenageado no primeiro filme da série Matrix, na cena em que o personagem Neo (Keanu Reeves) esconde seus programas piratas dentro de um exemplar do livro Simulacros e simulações.
Para Baudrillard, a aceleração das mudanças tecnológicas resultou num mundo sem referências, movido por fórmulas vazias, repetições incessantes das formas produzidas quando ainda existiam valores e referências da realidade. É o que ele chama de “simulacros”: a arte se tornou um simulacro da arte, a política um simulacro da política, e assim por diante.”Depois do ‘assassinato do real’, vivemos uma época de extermínio do diferente, do estranho, do ‘outro’” – diz Baudrillard. “Tentamos exorcizar a alteridade radical da morte por meio da terapia, da cirurgia estética, da clonagem, num sistema de identificação total entre todo mundo, de ‘metástase do mesmo’. E todos se transformam em atores do espetáculo total da realidade, como nos atos televisivos imediatos dos reality shows. Cada indivíduo é uma reprodução de um ‘eu genérico’, conectado em rede e em perpétuo feedback comunicacional. É o novo fundamentalismo do circuito integrado: o indivíduo sozinho já se torna massa. A diferenciação entre indivíduo e massa desapareceu”.
Outro aspecto delicado é que os critérios pragmáticos e até mesmo o vocabulário operativo da tecnologia se sobrepõem cada vez mais à reflexão sobre o sentido da vida. A eficácia prevalece sobre os conceitos de justo, certo e bom. O veterano e incansável Edgar Morin, que publica ensaios desde 1951, quando lançou O homem e a morte, e desde então vem participando de todos os debates que afetaram a sociedade européia, da contracultura dos anos 60 à globalização dos anos 90, tocou nesta questão, embora de forma menos pessimista que Baudrillard. Ele vê a digitalização como um produto do espírito humano:
– Hoje, o processo de globalização não é somente objetivo, mas também subjetivo. Objetivamente, percebemos que tudo à nossa volta foi globalizado: comemos frutas brasileiras, usamos roupas chinesas, ouvimos rádios fabricados no Japão. Subjetivamente, cada indivíduo recebe “influxos do eu”, via rede, de todo o planeta. A inserção na rede produz um duplo espectral, um “ego virtual”, que no passado era representado pela alma. O problema é que nos acostumamos a falar de uma só realidade, aquela que apreendemos pelos sentidos, quando, dentro da realidade, existem vários níveis.

TRIGO, Luciano. A realidade existe?. In: Continente Multicultural, edição no 31, jul 2003

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A CONQUISTA DA VELHICE


"A velhice, que hoje tarda bem mais do que décadas atrás, pode ser bela, alegre e apreciada enquanto não for amarga"

Uma das melhores frases que escutei sobre velhice e envelhecer, porque realista e bem-humorada, foi: "Velhice? Eu acho ótima, até porque a alternativa seria a morte!" Não é em geral o que se escuta. Mesmo velhos que têm boa saúde e poderiam estar curtindo alguma coisa costumam se lamentar em lugar de viver. E, acreditem, sempre há o que fazer, aprender, renovar. Vai-se, é verdade, parte da energia (a lucidez, não necessariamente, e se a perdermos não saberemos: a natureza pode ser misericordiosa).
Para quando a inevitável velhice chegar, tomei como meu modelo, talvez inatingível, minha comadre, madrinha de um de meus filhos, minha amada amiga Mafalda Verissimo, viúva de Érico e mãe de Luiz Fernando. Sei que ainda hoje, esteja onde estiver, ela sabe de mim, me cuida. Se pudesse me aconselhar, como costumava fazer, haveríamos de dar juntas boas risadas.
Essa velha dama, que, como minha mãe, morreu aos 90 anos, detestaria ser lembrada com tristeza. Uma de suas marcas era o bom humor, que nessa idade, mais do que em todas, é essencial: divertidos eram seus olhos muito azuis revelando o interesse múltiplo e alerta, aberto o coração.
A gente não a visitava para lhe fazer companhia (sua casa abrigava família e muitos amigos), mas porque nós precisávamos dela, ela nos alimentava com seu interesse, nos animava com sua vitalidade. Lia todos os jornais, entusiasmava-se com novidades, e as que não aprovava lá muito eram comentadas, também, com seu jeito divertido. Mafalda sempre me fez refletir sobre a velhice que escolhemos ter, para além das inevitáveis transformações que de preferência não escolheríamos. Com ela entendi melhor que velhos não são isolados porque os filhos não prestam ou os amigos morreram, mas também porque se tornaram chatos demais: reclamando, querendo controlar, chantageando e cobrando.
A gerontocracia pode ser cruel: é urgente rebelar-se contra ela, se queremos conviver com os velhos. E, se queremos ser um dia velhos com quem os outros gostem de estar, é bom evitá-la a qualquer custo. Velhos, como todos nós, podem ser vítima de seu próprio preconceito – além da rejeição generalizada a tudo o que não for jovem e fulgurante. É comum encontrar alguém que bem antes da velhice já não diz duas frases sem acrescentar em tom lastimoso "na minha idade". Por que não encarar o tempo como transformação da beleza enérgica da juventude na serena beleza da velhice?
Hão de arquear as sobrancelhas, mas eu lhes digo que, se hoje me divirto mais do que aos 30 anos, espero aos 80 achar ainda mais graça em muitas coisas que, décadas atrás, me fariam arrancar os cabelos em desespero. Se alguém na velhice é realmente só, sem ninguém, nem vizinho nem conhecido nem parente nem mesmo o quitandeiro da esquina com quem falar, me perdoe: a não ser que uma tragédia tenha devastado sua vida sem deixar pedra sobre pedra, possivelmente faltou cultivar interesses e afetos, em vez de esperar por eles como obrigação alheia. Sinto muito: se o velho sempre bonzinho é um mito, o velho simpático, aberto e otimista é uma realidade. Quando comentei isso, alguém retrucou: "Mas todos morreram, não tenho ninguém da minha idade para conversar".
É bem possível e até provável, mas você nunca fez amizades com gente mais jovem? Nunca se abriu para o que há de estimulante no outro tempo da vida? Nunca se renovou, nunca se abrandou? Quem não tiver obsessão pela juventude perdida pode se interessar pela imensa variedade de assuntos que todo dia entram em nossa casa pelos jornais, pela televisão e – por que não? – pelo computador. E não me venham com "na minha idade".
Os grupos da chamada terceira idade podem ser divertidos, estimular amizades, fazer sentir que a gente não é a única nem a vítima do destino cruel... Mas, por favor, não botem as velhinhas a dançar com vestido de bailarina saltitando com balões nas mãos, ou para fazer teatro infantil. Não as maquiem em excesso, não as tornem caricaturas.
A velhice, que hoje tarda bem mais do que décadas atrás, pode ser bela na sua beleza peculiar; alegre na sua alegria boa; alerta na medida de seus interesses; procurada e apreciada enquanto não for amarga.
Enfim, que sejamos todos e todas Mafaldas Verissimo, a que até o fim nos amou, nos apoiou, nos divertiu, nos escutou, aquela a quem procurávamos pelo nosso próprio bem e que deixou uma saudade boa, não um vazio de sombra.
E assim, amiga, enfim te homenageei.


(Lya Luft)

A ÚLTIMA CRÔNICA


A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
(Fernando Sabino)

Crônica publicada no livro "A Companheira de viagem" (Editora Record, 1965)

MANIA DE EXPLICAÇÃO


Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.
Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
As pessoas até se irritavam, irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito, com aquela menina explicando o tempo todo o que a população inteira já sabia. Quando ela se dava conta, todo mundo tinha ido embora. Então ela ficava lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.
Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Renúncia é um não que não queria ser ele.
Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente.
Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
Desatino é um desataque de prudência.
Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

EXEMPLOS DE TEXTOS JORNALÍSTICOS

Leia, abaixo, os textos de exemplo para cada uma das modalidades jornalísticas:

1) Exemplo de notícia:

Casos graves da nova gripe têm quinta queda consecutiva no país

País lidera em mortes; número chega a 899, diz Ministério da Saúde.
Mortalidade por 100 mil habitantes no Brasil é a quinta maior do mundo.

O balanço quinzenal dos casos da nova gripe, divulgado nesta quarta-feira (16) pelo Ministério da Saúde, mostra que houve queda pela quinta semana seguida de casos graves causados pelo vírus influenza A(H1N1). Mesmo assim, o Brasil ainda lidera o número total de mortes (899), apesar de a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes ser a quinta maior entre os países (0,46), em um ranking liderado pela Argentina (1,27).
Em 2 de setembro, data do último boletim, haviam sido registradas 657 mortes. De acordo com o ministério, o aumento em relação à última quinzena não se refere a novas mortes no período analisado, mas sim a casos que tiveram confirmação laboratorial entre 30 de agosto e 12 de setembro.
O número de notificações de casos graves entre 6 e 12 de setembro (35 casos) foi 14 vezes menor que o período entre 30 de agosto e 5 de setembro (490) e 65 vezes menor se comparado à semana entre 2 e 8 de agosto (2.283).
Entre o final de abril e começo de setembro, diz o ministério, foram registrados 10.401 casos graves com confirmação laboratorial para algum tipo de gripe – 88,92% deles (9.249) eram do novo vírus.

Gestantes

De acordo com o boletim, 3.521 mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) tiveram resultado positivo para o novo vírus e evoluíram para gravidade. Delas, 856 estavam grávidas e, entre elas, 91 morreram.
Na nota, o Ministério da Saúde também anunciou que vai passar a divulgar mensalmente o boletim sobre os casos da nova gripe. De acordo com o órgão, o motivo é a “queda na circulação do novo vírus e na ocorrência de casos graves.”

2) Exemplo de matéria:

São Paulo: Poluição sonora.

3) Exemplo de entrevista:

Cientista acredita que a vida na Terra tem seus dias contados.

4) Exemplo de crônica:

Luís Fernando Veríssimo.

ATIVIDADE:

Após ler cada um dos exemplos linkados acima, descreva brevemente o ASSUNTO de cada um deles. Faça isso numa FOLHA AVULSA com o nome de todos os integrantes da sua equipe. Uma folha por grupo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

CONSTRUÇÃO BÁSICA DE UM TEXTO JORNALÍSTICO


Diferentemente das técnicas empregadas em textos literários, nas quais escritores dedicam-se de corpo e alma a criar um ambiente de tensão até chegar ao ápice no final da história, com uma informação bombástica, os textos jornalísticos buscam exatamente o contrário: apresentar o cume do fato logo nas primeiras linhas.
Isso quer dizer que jornalistas, ao produzirem matérias, descrevem informações em ordem decrescente de importância, de modo que as principais estejam disponíveis logo nas primeiras linhas. Dessa maneira, na abertura do texto estão os fatos mais interessantes, enquanto que os de menor relevância surgem seqüencialmente e são complementos das informações principais.
Para elucidar melhor, basta se recordar das aulas de Geometria e trazer à mente uma pirâmide. Como sabemos, a base é a parte mais importante dela por oferecer sustentação ao restante. Nessa perspectiva, desenvolveu-se no texto jornalístico uma espécie de pirâmide invertida, na qual aquilo que é noticiosamente mais importante surge no topo. Essa técnica contribui significativamente com muitos leitores, sem tempo disponível ou paciência para uma leitura mais regular, pois basta ler o primeiro parágrafo para ter uma visão geral do que se trata a matéria.
Para reforçar o conceito, esse primeiro parágrafo é chamado de lead (expressão inglesa que significa “guia”, “condutor” ou “o que vem à frente”. Existe aqui no Brasil o termo aportuguesado lide), que é a base da pirâmide invertida, ou seja, a primeira parte de uma notícia que fornece ao leitor informações básicas acerca do tema proposto.
Nas teorias jornalísticas, ele é composto de seis perguntas que devem ser respondidas: "o quê?", "Quem?", "Quando?", "Onde?", "Como?" e "Por quê?". Ao responder parcial ou totalmente a essas questões, o texto jornalístico evidencia o fato noticiado e as principais circunstâncias em que ele ocorre. Um exemplo simplista de lead:
“(Quem?) João (o quê?) assassinou Maria (como?) a facadas, (quando?) ontem à noite, (onde?) em Taguatinga, (por quê?) porque ela não aceitou o convite de passear pelo shopping.
Vale lembrar que o lead tem como características essenciais objetividade, exatidão, coerência e linguagem clara e simples, mas isso não significa que deve ser engessado ou pouco chamativo (como o exemplo acima). Quanto mais criativo ele for, melhor, uma vez que, apesar de que o objetivo inicial de informar será alcançado após a leitura dele, a intenção é fazer com que o leitor continue com os olhos grudados no restante da matéria. Entretanto, isso depende de vários fatores como, por exemplo, interesse pelo tema, tempo disponível, etc.
Para finalizar, o lead em reportagens (que trazem gama maior de informações aprofundadas devido ao tempo mais dilatado) de jornais ou revistas não precisa responder imediatamente às seis perguntas. Normalmente, nesse caso, o principal objetivo é oferecer uma prévia do assunto a ser abordado.

O TEXTO JORNALÍSTICO


A função do jornal é basicamente a comunicação. É um dos meios mais rápidos de ficarmos informados a respeito do que acontece no mundo. Dentro do jornal há várias seções, que por sua vez, abrigam vários tipos de texto. Há algumas características que são comuns a todos estes textos, enquanto há outras que servem para individualizá-los.
A nomenclatura dos textos normalmente é dada de acordo com as suas características e seus objetivos específicos de comunicação. Genericamente chamamos os textos que se apresentam nos jornais de “matéria”. Normalmente esses textos têm caráter informativo. As informações são apresentadas em ordem decrescente de importância ou relevância, seguindo, assim, uma técnica chamada de pirâmide invertida. Ou seja, a base do texto (conteúdo mais importante) fica em cima e o ápice (conteúdo mais superficial) embaixo.
O primeiro parágrafo do texto é chamado de “lide” ou “lead” (inglês) e carrega o conteúdo mais denso da matéria, as principais informações. Esse recurso é usado para que as pessoas possam ter acesso fácil e rápido à informação e tenham a oportunidade de selecionar as matérias que realmente lhes interessam para prosseguir com a leitura. Geralmente o título da matéria é baseado no lide.
Vejamos alguns dos mais característicos tipos de textos jornalísticos e suas principais características:

Notícia: Caracteriza-se pela linguagem direta e formal. Tem caráter informativo e é escrito de forma impessoal, frequentemente fazendo uso da terceira pessoa. Inicia-se com o lide e se segue com o corpo da notícia. Enquanto na primeira parte estão registradas as principais informações do fato, no corpo do texto estão presentes os detalhes (relevantes ou não), as causas e as consequências dos fatos, como, onde e com quem aconteceu, e a sua possível repercussão na vida das pessoas que estão lendo. Pode ter ou não um público alvo (jovens, políticos, idosos, famílias), caso tenha a linguagem poderá ser adaptada para o melhor entendimento.

Editorial: Não é exatamente um tipo de texto, mas uma seção do jornal que possui textos selecionados e agrupados através de seu conteúdo, público ou objetivo. Os jornais são divididos em vários editoriais que podem ou não estar encadernados separadamente. Entre os editoriais mais comuns estão: Política, Economia, Cultura, Esporte, Turismo, País, Cidade, Classificados, Coluna Social, etc.

Reportagem: Tem por essência a descrição e caracterização de eventos. Para isso, a reportagem conta com algumas perguntas que, ao serem respondidas, formarão a estrutura da reportagem. Em Inglês chamamos as perguntas a seguir de WH Questions, e elas servem para melhor estruturar a reportagem: O quê?, Como?, Quando?, Onde?, Porquê?, Quem?.
Nota: Texto curto composto apenas pelo lide. Normalmente trata de algum assunto de fácil compreensão e assimilação e que seja do interesse do leitor. Algo que já tenha sido noticiado ou que não possui detalhes relevantes para serem descritos.

Além desses, há outros cuja estrutura é mais complexa e a ocorrência vai além-jornal, como a crônica, o artigo, etc.

Normalmente, o processo de produção de um texto jornalístico se divide em quatro fases: a pauta (escolha do assunto), a apuração (verificação dos fatos e de provas), a redação (organização das idéias transformando-as em texto) e a edição (locação desses textos no jornal, correção e revisão dos mesmos).

RESPONDA AS SEGUINTES PERGUNTAS:

1) Qual é a função do jornal?

2) Genericamente, como se chamam os diferentes tipos de texto que fazem parte de um jornal?

3) Como são dispostas as informações numa matéria de jornal?

4) O que é "lead"? Para que esse recurso é empregado?

5) O que são os editoriais?

6) Quais são as perguntas que norteiam o trabalho do jornalista que vá escrever uma reportagem? Por que essas perguntas são importantes nesse processo?

7) Nomeie e explique as fases de produção de um texto jornalístico.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

EXERCÍCIO: TEXTO DESCRITIVO

PROPOSTA DE REDAÇÃO

Escolha uma das imagens abaixo e componha um texto descritivo a partir dele. Você pode optar por uma descrição objetiva (aquela que se detém aos detalhes observados e somente a eles, sem nenhum espaço para sua opinião pessoal) ou uma descrição subjetiva (aquela em que, além de explicitar detalhes observados, você tem também espaço para manifestar suas impressões pessoais sobre a cena descrita).








quarta-feira, 12 de agosto de 2009

PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO

Combate ao fumo: autoritarismo ou dever do governo?

Foi aprovada, no dia 7 de maio de 2009, pelo governador de São Paulo, uma lei antifumo válida para todo o Estado. A partir de 7 de agosto, está proibido fumar cigarros, cachimbos ou charutos em todos os lugares públicos fechados ou semifechados. Só será possível fumar no próprio carro, dentro de casa ou no meio da rua, desde que não haja tetos, toldos, ou guarda-sóis. Essa lei, aplaudida por muitas entidades e autoridades ligadas à saúde, é também criticada com violência por pessoas que a consideram radical e autoritária, pois tiraria do cidadão boa parte de sua liberdade, que passa a ser vigiada, e o livre-arbítrio para fumar ou não. Como você se posiciona diante dessa questão?

Elabore uma dissertação considerando as ideias a seguir:

Sou a favor do tabagismo

Na verdade, sou a favor do direito ao tabagismo. [...]; claro que os não fumantes têm direito de não respirar a fumaça alheia e manter seus pulmões limpinhos e suas roupas cheirosas[...]. Onde vamos fumar nosso cigarrinho em paz? [...] Fumantes são tratados como anomalias: seres imundos e fedorentos que devem ficar lá fora, longe [...]. Nada de errado em avisar que o fumo faz mal, [...] . Mas tentar proibir as pessoas de fazer o que elas bem entendem é terrível. Dá licença se eu quiser morrer?

[Clarah Averbuch, escritora. Revista da Folha. 17 de maior de 2009]

Fumaça do cigarro: ignorância ou má-fé

Volto à proibição do fumo em ambientes fechados. Incrível como esse tema ainda gera discussões acaloradas. Como é possível considerar a proibição de fumar nos lugares em que outras pessoas respiram uma afronta à liberdade individual? As evidências científicas de que o fumante passivo também fuma são tantas e tão contundentes que os defensores do direito de encher de fumaça restaurantes e demais espaços públicos só podem fazê-lo por duas razões: ignorância ou interesse financeiro. [...] Depois de uma manhã de trabalho num escritório em que várias pessoas fumam, a concentração de nicotina no sangue de um abstêmio pode atingir os níveis de quem tivesse fumado três a cinco cigarros. Empregados de bares e restaurantes que passam seis horas em ambientes carregados de fumaça, chegam a ter concentrações sanguíneas de nicotina equivalentes a de quem fumou cinco ou mais cigarros. [...]

[Drauzio Varella, médico. Folha de S. Paulo, 25 de abril de 2009]

Pobre Cigarro!

Dezoito deputados votaram contra e 69 a favor do projeto.


Fumar ou não fumar eis a questão

O ponto é simples: por que não permitir que um dono de bar ou restaurante coloque uma placa na frente de seu estabelecimento dizendo: "aqui é permitido fumar", ou "fumantes são bem-vindos". Logo, sabendo disso, não só os fumantes, mas seus amigos não-fumantes ou simplesmente aqueles que não trocam a vida pela saúde poderão entrar. [...] Enfim, algo bem singelo que atende pelo nome de liberdade individual. Ah, os coletivistas dirão: mas e a proteção aos funcionários do bar? [...] E o garçom que não fuma? Ele será coagido a aspirar a fumaça dos clientes. Ora, ora. Ninguém é coagido a trabalhar num bar que aceita fumantes. Na verdade, que eu saiba ninguém é coagido a trabalhar em lugar nenhum.

[Aguinaldo Pavão. Jornal de Londrina, 15 de abril de 2009]


Observações:

•Seu texto deve ser escrito no padrão culto da língua portuguesa;
•Não deve estar redigido em forma de poema (versos) ou narração;
•A redação deve ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas escritas;
•Não deixe de dar um título a sua redação.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

CLASSICISMO EM PORTUGAL

RENASCIMENTO

A sociedade se liberta do domínio da igreja e o homem se torna o centro do mundo.Antropocentrismo oposto ao teocentrismo medieval, a valorização da razão, pelo culto da antiguidade clássica e pelo humanismo.
O RENASCIMENTO valoriza a faculdade de conhecimento e a soberania do raciocínio, capazes de conduzir o homem a grandes proesas, como as que canta Camões (1524-1580).
O renascimento imita a Antiguidade Clássica Greco-latina porque havias a concepção de que os gregos e romanos haviam atingido a mais alta realização artística.
O humanismo, característica do Renascimento, é o interesse pelo homem e a primazia a ele conferida. O sentimento religioso não desaparece, mas passa a ser secundário.
O homem passa a ser valorizado pela sua capacidade de conhecimento, pela sua possibilidade de voltar-se às coisas do mundo e domina-las pelo saber.

CARACTERISTICAS DO PERÍODO:

* ANTOPOCENTRISMO;
* valorização da razão;
* culto dos valores da Antiguidade clássica;
* Humanismo;
* CIENTIFICISMO – preocupação com a ciência, metodização da natureza, registro dos dados da experiência;
* ELITISMO – arte produzida por e para uma elite antipopular;
* AUTONOMIA DA ARTE – independência da Igreja, valorização da forma sobre o tema, surgimento a noção de autor;

CONTEXTO HISTORICO – PORTUGAL

O Classicismo português desenvolveu-se durante o século XVI. É, portanto, o movimento literário de intensa transformação social e cultural representada pelo Renascimento. Caracterizado por intensa produção literária, desenvolvimento da poesia, tanto lírica como épica. A prosa também apresenta muitos textos, narrativas de ficção e histográficas e principalmente a “literatura de viagens”, ligada aos descobrimentos marítimos
A consciência o homem como ser universal e também a consciência de nação.
As grandes descobertas e a euforia da riqueza e do luxo são suplantadas pelo desencanto do desmoronamento na Europa. O primeiro momento do Renascimento é de euforia e o segundo é de desencanto, decadência.

CAMÕES

Luís Vaz de Camões presume-se tenha nascido em Lisboa por volta de 1524, de uma família do Norte (Chaves). Viveu algum tempo em Coimbra onde, segundo consta, freqüentou aulas de Humanidades no Mosteiro de Santa Cruz onde tinha um tio padre. Regressou a Lisboa, levando aí uma vida de boemia. Em 1553, depois de ter sido preso devido a uma briga, parte para a Índia. Fixou-se na cidade de Goa onde escreveu, de acordo com seus estudiosos, grande parte da sua obra. Regressa a Portugal em 1569, pobre e doente, conseguindo publicar Os Lusíadas em 1572 graças à influência de alguns amigos junto do rei D. Sebastião. Faleceu em Lisboa no dia 10 de junho de 1580. É considerado o maior poeta português, situando-se a sua obra entre o Classicismo e o Maneirismo. Obras: "Os Lusíadas" (1572), "Rimas" (1595), "El-Rei Seleuco" (1587), "Auto de Filodemo" (1587) e "Anfitriões" (1587).

Soneto

(Luís de Camões)

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.

Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

OS LUSÍADAS

O renascimento literário atingiu seu ápice em Portugal, durante o período conhecido como Classicismo, entre 1527 e 1580. O marco de seu início é o retorno a Portugal do poeta Sá de Miranda, que passara anos estudando na Itália, de onde traz as inovações dos poetas do Renascimento italiano, como o verso decassílabo e as posturas amorosas do Doce stil nouvo. Mas foi Luís de Camões, cuja vida se estende exatamente durante este período, quem aperfeiçoou, na Língua Portuguesa, as novas técnicas poéticas, criando poemas líricos que rivalizam em perfeição formal com os de Petrarca e um poema épico, Os Lusíadas, que, à imitação de Homero e Virgílio, traduz em verso toda a história do povo português e suas grandes conquistas, tomando, como motivo central, a descoberta do caminho marítimo para as Índias por Vasco da Gama em 1497/99. Para cantar a história do povo português, em Os Lusíadas, Camões foi buscar na antiguidade clássica a forma adequada: o poema épico, gênero poético narrativo e grandiloqüente, desenvolvido pelos poetas da antiguidade para cantar a história de todo um povo. A Ilíada e a Odisseia, atribuídas a Homero (Século VIII a. C), através da narração de episódios da Guerra de Troia, contam as lendas e a história heroica do povo grego. Já a Eneida, de Virgílio (71 a 19 a.C.), através das aventuras do herói Enéas, apresenta a história da fundação de Roma e as origens do povo romano.
Ao compor o maior monumento poético da Língua Portuguesa, Os Lusíadas, publicado em 1572, Camões copia a estrutura narrativa da Odisseia de Homero, assim como versos da Eneida de Virgílio. Utiliza a estrofação em Oitava Rima, inventada pelo italiano Ariosto, que consiste em estrofes de oito versos, rimadas sempre da mesma forma: abababcc. A epopeia se compõe de 1102 dessas estrofes, ou 8816 versos, todos decassílabos, divididos em 10 cantos.

DIVISÃO DA OBRA:

O poema se organiza tradicionalmente em cinco partes:

1. Proposição (Canto I, Estrofes 1 a 3) Apresentação da matéria a ser cantada: os feitos dos navegadores portugueses, em especial os da esquadra de Vasco da Gama e a história do povo português.
2. Invocação (Canto I, Estrofes 4 e 5) O poeta invoca o auxílio das musas do rio Tejo, as Tágides, que irão inspirá-lo na composição da obra.
3. Dedicatória (Canto I, Estrofes 6 a 18) O poema é dedicado ao rei Dom Sebastião, visto como a esperança de propagação da fé católica e continuação das grandes conquistas portuguesas por todo o mundo.
4. Narração (Canto I, Estrofe 19 a Canto X, Estrofe 144) A matéria do poema em si. A viagem de Vasco da Gama e as glórias da história heróica portuguesa.
5. Epílogo (Canto X, Estrofes 145 a 156) Grande lamento do poeta, que reclama o fato de sua "voz rouca" não ser ouvida com mais atenção.

NARRAÇÃO

A narração consiste, portanto, na maior parte do poema. Inicia-se "In Media Res", ou seja, em plena ação. Vasco da Gama e sua frota se dirigem para o Cabo da Boa Esperança, com o intuito de alcançarem a Índia pelo mar. Auxiliados pelos deuses Vênus e Marte e perseguidos por Baco e Netuno, os heróis lusitanos passam por diversas aventuras, sempre comprovando seu valor e fazendo prevalecer sua fé cristã. Ao pararem em Melinde, ao atingirem Calicute, ou mesmo durante a viagem, os portugueses vão contando a história dos feitos heróicos de seu povo. Completada a viagem, são recompensados por Vênus com um momento de descanso e prazer na Ilha dos Amores, verdadeiro paraíso natural que em muito lembra a imagem que então se fazia do recém descoberto Brasil.

ESTRUTURA NARRATIVA

O poema se estrutura através de uma narrativa principal, que apresenta a viagem da armada de Vasco da Gama. A esse fio narrativo condutor é incorporada inicialmente a narração feita por Vasco da Gama ao rei de Melinde, em que conta a história de Portugal até a sua própria viagem. Na voz do Gama, ouvem-se os feitos dos heróis portugueses anteriores a ele, como Dom Nuno Álvares Pereira, o caso de amor trágico de Inês de Castro, o relato de sua própria partida, com o irado e premonitório discurso do Velho do Restelo e o episódio do Gigante Adamastor, representação mítica do Cabo da Boa Esperança. Em seguida são acrescentadas as narrativas feitas aos seus companheiros pelo marinheiro Veloso, que relata o episódio dos Doze da Inglaterra. Por fim, já na Índia, Paulo da Gama, irmão de Vasco, conta ainda outros feitos heróicos portugueses ao Catual de Calicute. A estrutura narrativa do poema é composta, portanto, por três narrativas remetendo à história de Portugal, interligadas pela narração da viagem de Vasco da Gama.

ECLETISMO RELIGIOSO

O poema apresenta um ecletismo religioso bastante curioso. Mescla a mitologia greco-romana a um catolicismo fervoroso. Protegidos pelos deuses, os portugueses procuram impor aos infiéis mouros sua fé cristã. O português é visto por Camões como representante de toda a cultura ocidental, batendo-se contra o inimigo oriental, o árabe não-cristão. Todo esse fervor religioso não impede a utilização pelo poeta do erotismo de cunho pagão, como no episódio da Ilha dos Amores e seus defensores lusitanos são protegidos, ao longo de todo o poema, por uma deusa pagã, Vênus. É curioso notar que a imagem clássica do deus romano Baco (o Dioniso dos gregos), amigo do vinho e do desregramento, inimigo maior dos portugueses, é a de um ser de chifres e rabo. A mesma que foi utilizada pela igreja católica para representar o demônio.

EPISÓDIOS PRINCIPAIS

Diversos são os episódios célebres de Os Lusíadas que merecem um olhar mais atento. Um deles é o da Ilha dos Amores, (Canto IX, estrofes 68 a 95) em que a "Máquina do Mundo", com suas inúmeras profecias, é apresentada aos portugueses. Nessa passagem do final do poema o plano mítico - dos deuses - e o histórico - dos homens - encontram-se: os portugueses são elevados simbolicamente à condição de deuses, pois só aos últimos é permitido contemplar a "Máquina do Mundo". Foi o episódio da Ilha dos Amores que inspirou o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade a compor seu poema "A Máquina do Mundo". Outro é o do Gigante Adamastor, (Canto V, estrofes 37 a 60), representação figurada do Cabo da Boa Esperança, que simboliza os perigos e tormentas enfrentados pelos navegadores lusitanos no caminho da Índia. Adamastor é o próprio Cabo, que foi transformado em rocha pelo deus Peleu, como vingança por ter seduzido sua esposa, a ninfa Tétis. Esse episódio foi recriado por Fernando Pessoa (1888-1935) no poema "O Mostrengo" do livro Mensagem (1934).