quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO


A virgindade é um valor moral a ser preservado?

Tanto a vida sexual precoce de muitos adolescentes quanto a opção pela virgindade são motivo de polêmicas. Nestes tempos de tolerância, ou permissividade, a castidade até o casamento volta a ser valorizada pelos jovens, como era por seus bisavós. Numa inversão de papéis, muitos pais da geração dos anos 1960 consideram seus filhos conservadores. Outros suspiram aliviados, ou porque são religiosos, ou porque têm medo de doenças sexualmente transmissíveis, ou, ainda, porque acham que a virgindade é sinal de juízo. Entre os jovens, há guerras de opinião em blogs e comunidades da internet. E você, o que acha? A virgindade até o casamento é ou não importante para o relacionamento de um casal?

Elabore uma dissertação considerando as ideias a seguir:

Pureza: Jonas Brothers usam anel de virgindade

"Nós prometemos a nós mesmos e a Deus manter a virgindade até o casamento", declarou à imprensa Nick Jonas, integrante da banda americana teen mais famosa do momento. "É legal sermos reconhecidos como bons garotos", diz ele. Os irmãos Jonas são norte-americanos, roqueiros, evangélicos. A originalidade do grupo é a convicção da virgindade masculina, que é simbolizada pelos anéis de pureza nos dedos dos três irmãos. Apesar disso, as fãs, com gritos histéricos, querem beijá-los, abraçá-los ou manter qualquer tipo de contato físico com seus ídolos.

Precocidade e liberdade: mas em casa?

A geração de pais que fez a revolução sexual está confusa [...]. Os adolescentes de hoje são filhos da geração que se casou no final da década de 1970 [quando] estavam em alta o relacionamento liberal, o sexo livre e a contestação à ordem social. É gente que deu liberdade aos filhos, mas não incluiu aí modelo de comportamento sexual. [...]. O mais surpreendente não é a idade em que acontece a iniciação, mas onde: na casa da família.[...]. O garoto dorme com a namorada e tem o apoio explícito dos pais e amigos. A menina [...] não corre o risco de ser espancada porque fez sexo fora do casamento. Ao contrário, para muitos pais é motivo de alívio saber que se trata de um namoradinho conhecido e sadio. Pais tranquilos? Mais honesto é dizer que se resignaram ao mal menor. "A garotada encara a primeira vez como algo inevitável no desenvolvimento de qualquer pessoa", diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade, da Universidade de São Paulo.

[Veja On-line]

O tabu da virgindade hoje

A revolução de costumes e valores pela qual o mundo passou ao fim dos anos 1960 retirou o caráter sagrado da virgindade. Mesmo assim, deixar de ser virgem ainda é uma questão íntima e delicada para muitos adolescentes de ambos os sexos. Os jovens, em geral, reconhecem que a virgindade é uma condição que depende apenas da escolha pessoal. A liberdade de costumes permite que eles deem início à vida amorosa no período do namoro. Por outro lado, ainda existem resquícios do velho código moral que convivem lado a lado com os mais recentes modismos.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, de José de Alencar.

Como se sabe, Iracema é a virgem dos lábios de mel e tem os cabelos mais negros que as asas da graúna. A virgindade física de Iracema se sustenta pela sua posição religiosa na tribo, pois ela é a "sacerdotisa de Tupã". Sua extrema paixão pelo português Martim, entretanto, é mais forte que os valores tabajaras, que ela transgredirá: inundada de amor, dá a ele o licor de jurema, na verdade um alucinógeno que lhe permite entregar-se ao amado sem que este tenha consciência da transgressão. Iracema sabe que, depois da entrega, só lhe restará abandonar sua tribo e seus valores...

[Expressões culturais no tempo e no espaço; Márcia Lígia Guidin, Pueri Domus Escolas Associadas, 2000]

Observações:

•Seu texto deve ser escrito em língua portuguesa;
•Não deve estar redigido em forma de poema (versos) ou narração;
•A redação deve ter no mínimo 15 e no máximo 30 linhas escritas;
•Não deixe de dar um título a sua redação;

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

PROPOSTA DE REDAÇÃO: DISSERTAÇÃO


TEMA PROPOSTO: A efemeridade/transitoriedade dos fatos, dos valores, das relações e seus efeitos sobre o ser humano dos nossos dias.

Verificamos, hoje em dia, que tudo pode ser acessado de imediato, mas é efêmero / transitório: pode acabar instantaneamente ou ser substituído na mesma velocidade com que foi descoberto, experimentado ou vivido. Podemos, desta forma, chegar à constatação de que estamos envolvidos em relações de superficialidade, em acúmulo de tarefas e imersos numa constante “falta de tempo”. As pessoas sentem-se “perdidas” dentro do caos da modernidade e têm dificuldade para estabelecer relações saudáveis com o que quer que seja: trabalho, família, sua saúde ou nos relacionamentos em geral.
A velocidade com que as mudanças e os fatos acontecem no nosso dia-a-dia gera um forte sentimento de instabilidade e insegurança, nos levando a refletir sobre quão superficiais ou mesmo “descartáveis” tornaram-se também as nossas necessidades no mundo atual. Temos dificuldades em estabelecer valores autênticos, iludidos e influenciados que somos pela chamada “cultura digital” e também pela crescente “homogeneidade”, imposta pela globalização, que nos faz perder de vista heranças culturais e comportamentais, deixadas em segundo plano, provocando uma perda de identidade que, se não for freada a tempo, pode nos causar danos irreversíveis e bastante tristes a longo prazo.
Guiados pela mídia e bombardeados pelas idéias consumistas, começamos a valorizar e a buscar coisas que, na verdade, estão longe de serem realmente importantes para nossas vidas porque passageiras e irrelevantes. Mudamos nossas cabeças, mudamos nosso comportamento e a eterna sensação de “vazio” ainda nos persegue: sem objetivos reais, somos constantemente vitimados pela nossa própria visão distorcida e invertida da realidade.

Você já parou para pensar sobre isso?

Para auxiliar sua reflexão, leia os textos abaixo e, a seguir, norteando-se por eles, produza um texto dissertativo, com cerca de 25/30 linhas, em que você desenvolva o tema proposto de forma clara, coerente e com argumentação bem fundamentada. Não se esqueça de dar um título adequado ao seu texto.

Texto 1

"Nunca a questão do olhar esteve tão no centro do debate da cultura e das sociedades contemporâneas. Um mundo onde tudo é produzido para ser visto, onde tudo se mostra ao olhar, coloca necessariamente o ver como um problema. Aqui não existem mais véus nem mistérios. Vivemos no universo da sobreexposição e da obscenidade, saturado de clichês, onde a banalização e a descartabilidade das coisas e imagens foi levada ao extremo. (...) O indivíduo contemporâneo é, em primeiro lugar, um passageiro metropolitano: em permanente movimento, cada vez mais longe, cada vez mais rápido. (...) A velocidade provoca, para aquele que avança num veículo, um achatamento da paisagem. Quanto mais rápido o movimento, menos profundidade as coisas têm, mais chapadas ficam, como se estivessem contra um muro, contra uma tela. A cidade contemporânea corresponderia a este novo olhar. Os seus prédios e habitantes passariam pelo mesmo processo de superficialização, a paisagem urbana se confundindo com out-doors. O mundo se converte num cenário, os indivíduos em personagens."

PEIXOTO, Nelson Brissac. O olhar do estrangeiro. In: NOVAES, Adauto. (Org.) O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 361.

Texto 2

“ (...) Parece claro que o mundo está passando por uma reconfiguração. Os efeitos das profundas transformações provocadas pela cultura digital sobre a formação de identidades, as questões éticas e a variação de papéis sociais do indivíduo contemporâneo foram abordados pelas duas principais estrelas do seminário no Rio, os filósofos franceses Jean Baudrillard e Edgar Morin. Baudrillard, autor de ensaios sempre provocativos como A transparência do mal, A ilusão do fim e O crime perfeito, aproveitou para lançar seu novíssimo livro, Tower inferno, que analisa os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Uma curiosidade é que o pensador foi citado/ homenageado no primeiro filme da série Matrix, na cena em que o personagem Neo (Keanu Reeves) esconde seus programas piratas dentro de um exemplar do livro Simulacros e simulações.
Para Baudrillard, a aceleração das mudanças tecnológicas resultou num mundo sem referências, movido por fórmulas vazias, repetições incessantes das formas produzidas quando ainda existiam valores e referências da realidade. É o que ele chama de “simulacros”: a arte se tornou um simulacro da arte, a política um simulacro da política, e assim por diante.”Depois do ‘assassinato do real’, vivemos uma época de extermínio do diferente, do estranho, do ‘outro’” – diz Baudrillard. “Tentamos exorcizar a alteridade radical da morte por meio da terapia, da cirurgia estética, da clonagem, num sistema de identificação total entre todo mundo, de ‘metástase do mesmo’. E todos se transformam em atores do espetáculo total da realidade, como nos atos televisivos imediatos dos reality shows. Cada indivíduo é uma reprodução de um ‘eu genérico’, conectado em rede e em perpétuo feedback comunicacional. É o novo fundamentalismo do circuito integrado: o indivíduo sozinho já se torna massa. A diferenciação entre indivíduo e massa desapareceu”.
Outro aspecto delicado é que os critérios pragmáticos e até mesmo o vocabulário operativo da tecnologia se sobrepõem cada vez mais à reflexão sobre o sentido da vida. A eficácia prevalece sobre os conceitos de justo, certo e bom. O veterano e incansável Edgar Morin, que publica ensaios desde 1951, quando lançou O homem e a morte, e desde então vem participando de todos os debates que afetaram a sociedade européia, da contracultura dos anos 60 à globalização dos anos 90, tocou nesta questão, embora de forma menos pessimista que Baudrillard. Ele vê a digitalização como um produto do espírito humano:
– Hoje, o processo de globalização não é somente objetivo, mas também subjetivo. Objetivamente, percebemos que tudo à nossa volta foi globalizado: comemos frutas brasileiras, usamos roupas chinesas, ouvimos rádios fabricados no Japão. Subjetivamente, cada indivíduo recebe “influxos do eu”, via rede, de todo o planeta. A inserção na rede produz um duplo espectral, um “ego virtual”, que no passado era representado pela alma. O problema é que nos acostumamos a falar de uma só realidade, aquela que apreendemos pelos sentidos, quando, dentro da realidade, existem vários níveis.

TRIGO, Luciano. A realidade existe?. In: Continente Multicultural, edição no 31, jul 2003

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A CONQUISTA DA VELHICE


"A velhice, que hoje tarda bem mais do que décadas atrás, pode ser bela, alegre e apreciada enquanto não for amarga"

Uma das melhores frases que escutei sobre velhice e envelhecer, porque realista e bem-humorada, foi: "Velhice? Eu acho ótima, até porque a alternativa seria a morte!" Não é em geral o que se escuta. Mesmo velhos que têm boa saúde e poderiam estar curtindo alguma coisa costumam se lamentar em lugar de viver. E, acreditem, sempre há o que fazer, aprender, renovar. Vai-se, é verdade, parte da energia (a lucidez, não necessariamente, e se a perdermos não saberemos: a natureza pode ser misericordiosa).
Para quando a inevitável velhice chegar, tomei como meu modelo, talvez inatingível, minha comadre, madrinha de um de meus filhos, minha amada amiga Mafalda Verissimo, viúva de Érico e mãe de Luiz Fernando. Sei que ainda hoje, esteja onde estiver, ela sabe de mim, me cuida. Se pudesse me aconselhar, como costumava fazer, haveríamos de dar juntas boas risadas.
Essa velha dama, que, como minha mãe, morreu aos 90 anos, detestaria ser lembrada com tristeza. Uma de suas marcas era o bom humor, que nessa idade, mais do que em todas, é essencial: divertidos eram seus olhos muito azuis revelando o interesse múltiplo e alerta, aberto o coração.
A gente não a visitava para lhe fazer companhia (sua casa abrigava família e muitos amigos), mas porque nós precisávamos dela, ela nos alimentava com seu interesse, nos animava com sua vitalidade. Lia todos os jornais, entusiasmava-se com novidades, e as que não aprovava lá muito eram comentadas, também, com seu jeito divertido. Mafalda sempre me fez refletir sobre a velhice que escolhemos ter, para além das inevitáveis transformações que de preferência não escolheríamos. Com ela entendi melhor que velhos não são isolados porque os filhos não prestam ou os amigos morreram, mas também porque se tornaram chatos demais: reclamando, querendo controlar, chantageando e cobrando.
A gerontocracia pode ser cruel: é urgente rebelar-se contra ela, se queremos conviver com os velhos. E, se queremos ser um dia velhos com quem os outros gostem de estar, é bom evitá-la a qualquer custo. Velhos, como todos nós, podem ser vítima de seu próprio preconceito – além da rejeição generalizada a tudo o que não for jovem e fulgurante. É comum encontrar alguém que bem antes da velhice já não diz duas frases sem acrescentar em tom lastimoso "na minha idade". Por que não encarar o tempo como transformação da beleza enérgica da juventude na serena beleza da velhice?
Hão de arquear as sobrancelhas, mas eu lhes digo que, se hoje me divirto mais do que aos 30 anos, espero aos 80 achar ainda mais graça em muitas coisas que, décadas atrás, me fariam arrancar os cabelos em desespero. Se alguém na velhice é realmente só, sem ninguém, nem vizinho nem conhecido nem parente nem mesmo o quitandeiro da esquina com quem falar, me perdoe: a não ser que uma tragédia tenha devastado sua vida sem deixar pedra sobre pedra, possivelmente faltou cultivar interesses e afetos, em vez de esperar por eles como obrigação alheia. Sinto muito: se o velho sempre bonzinho é um mito, o velho simpático, aberto e otimista é uma realidade. Quando comentei isso, alguém retrucou: "Mas todos morreram, não tenho ninguém da minha idade para conversar".
É bem possível e até provável, mas você nunca fez amizades com gente mais jovem? Nunca se abriu para o que há de estimulante no outro tempo da vida? Nunca se renovou, nunca se abrandou? Quem não tiver obsessão pela juventude perdida pode se interessar pela imensa variedade de assuntos que todo dia entram em nossa casa pelos jornais, pela televisão e – por que não? – pelo computador. E não me venham com "na minha idade".
Os grupos da chamada terceira idade podem ser divertidos, estimular amizades, fazer sentir que a gente não é a única nem a vítima do destino cruel... Mas, por favor, não botem as velhinhas a dançar com vestido de bailarina saltitando com balões nas mãos, ou para fazer teatro infantil. Não as maquiem em excesso, não as tornem caricaturas.
A velhice, que hoje tarda bem mais do que décadas atrás, pode ser bela na sua beleza peculiar; alegre na sua alegria boa; alerta na medida de seus interesses; procurada e apreciada enquanto não for amarga.
Enfim, que sejamos todos e todas Mafaldas Verissimo, a que até o fim nos amou, nos apoiou, nos divertiu, nos escutou, aquela a quem procurávamos pelo nosso próprio bem e que deixou uma saudade boa, não um vazio de sombra.
E assim, amiga, enfim te homenageei.


(Lya Luft)

A ÚLTIMA CRÔNICA


A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
(Fernando Sabino)

Crônica publicada no livro "A Companheira de viagem" (Editora Record, 1965)

MANIA DE EXPLICAÇÃO


Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.
Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
As pessoas até se irritavam, irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito, com aquela menina explicando o tempo todo o que a população inteira já sabia. Quando ela se dava conta, todo mundo tinha ido embora. Então ela ficava lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.
Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Renúncia é um não que não queria ser ele.
Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente.
Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
Desatino é um desataque de prudência.
Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

EXEMPLOS DE TEXTOS JORNALÍSTICOS

Leia, abaixo, os textos de exemplo para cada uma das modalidades jornalísticas:

1) Exemplo de notícia:

Casos graves da nova gripe têm quinta queda consecutiva no país

País lidera em mortes; número chega a 899, diz Ministério da Saúde.
Mortalidade por 100 mil habitantes no Brasil é a quinta maior do mundo.

O balanço quinzenal dos casos da nova gripe, divulgado nesta quarta-feira (16) pelo Ministério da Saúde, mostra que houve queda pela quinta semana seguida de casos graves causados pelo vírus influenza A(H1N1). Mesmo assim, o Brasil ainda lidera o número total de mortes (899), apesar de a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes ser a quinta maior entre os países (0,46), em um ranking liderado pela Argentina (1,27).
Em 2 de setembro, data do último boletim, haviam sido registradas 657 mortes. De acordo com o ministério, o aumento em relação à última quinzena não se refere a novas mortes no período analisado, mas sim a casos que tiveram confirmação laboratorial entre 30 de agosto e 12 de setembro.
O número de notificações de casos graves entre 6 e 12 de setembro (35 casos) foi 14 vezes menor que o período entre 30 de agosto e 5 de setembro (490) e 65 vezes menor se comparado à semana entre 2 e 8 de agosto (2.283).
Entre o final de abril e começo de setembro, diz o ministério, foram registrados 10.401 casos graves com confirmação laboratorial para algum tipo de gripe – 88,92% deles (9.249) eram do novo vírus.

Gestantes

De acordo com o boletim, 3.521 mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) tiveram resultado positivo para o novo vírus e evoluíram para gravidade. Delas, 856 estavam grávidas e, entre elas, 91 morreram.
Na nota, o Ministério da Saúde também anunciou que vai passar a divulgar mensalmente o boletim sobre os casos da nova gripe. De acordo com o órgão, o motivo é a “queda na circulação do novo vírus e na ocorrência de casos graves.”

2) Exemplo de matéria:

São Paulo: Poluição sonora.

3) Exemplo de entrevista:

Cientista acredita que a vida na Terra tem seus dias contados.

4) Exemplo de crônica:

Luís Fernando Veríssimo.

ATIVIDADE:

Após ler cada um dos exemplos linkados acima, descreva brevemente o ASSUNTO de cada um deles. Faça isso numa FOLHA AVULSA com o nome de todos os integrantes da sua equipe. Uma folha por grupo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

CONSTRUÇÃO BÁSICA DE UM TEXTO JORNALÍSTICO


Diferentemente das técnicas empregadas em textos literários, nas quais escritores dedicam-se de corpo e alma a criar um ambiente de tensão até chegar ao ápice no final da história, com uma informação bombástica, os textos jornalísticos buscam exatamente o contrário: apresentar o cume do fato logo nas primeiras linhas.
Isso quer dizer que jornalistas, ao produzirem matérias, descrevem informações em ordem decrescente de importância, de modo que as principais estejam disponíveis logo nas primeiras linhas. Dessa maneira, na abertura do texto estão os fatos mais interessantes, enquanto que os de menor relevância surgem seqüencialmente e são complementos das informações principais.
Para elucidar melhor, basta se recordar das aulas de Geometria e trazer à mente uma pirâmide. Como sabemos, a base é a parte mais importante dela por oferecer sustentação ao restante. Nessa perspectiva, desenvolveu-se no texto jornalístico uma espécie de pirâmide invertida, na qual aquilo que é noticiosamente mais importante surge no topo. Essa técnica contribui significativamente com muitos leitores, sem tempo disponível ou paciência para uma leitura mais regular, pois basta ler o primeiro parágrafo para ter uma visão geral do que se trata a matéria.
Para reforçar o conceito, esse primeiro parágrafo é chamado de lead (expressão inglesa que significa “guia”, “condutor” ou “o que vem à frente”. Existe aqui no Brasil o termo aportuguesado lide), que é a base da pirâmide invertida, ou seja, a primeira parte de uma notícia que fornece ao leitor informações básicas acerca do tema proposto.
Nas teorias jornalísticas, ele é composto de seis perguntas que devem ser respondidas: "o quê?", "Quem?", "Quando?", "Onde?", "Como?" e "Por quê?". Ao responder parcial ou totalmente a essas questões, o texto jornalístico evidencia o fato noticiado e as principais circunstâncias em que ele ocorre. Um exemplo simplista de lead:
“(Quem?) João (o quê?) assassinou Maria (como?) a facadas, (quando?) ontem à noite, (onde?) em Taguatinga, (por quê?) porque ela não aceitou o convite de passear pelo shopping.
Vale lembrar que o lead tem como características essenciais objetividade, exatidão, coerência e linguagem clara e simples, mas isso não significa que deve ser engessado ou pouco chamativo (como o exemplo acima). Quanto mais criativo ele for, melhor, uma vez que, apesar de que o objetivo inicial de informar será alcançado após a leitura dele, a intenção é fazer com que o leitor continue com os olhos grudados no restante da matéria. Entretanto, isso depende de vários fatores como, por exemplo, interesse pelo tema, tempo disponível, etc.
Para finalizar, o lead em reportagens (que trazem gama maior de informações aprofundadas devido ao tempo mais dilatado) de jornais ou revistas não precisa responder imediatamente às seis perguntas. Normalmente, nesse caso, o principal objetivo é oferecer uma prévia do assunto a ser abordado.

O TEXTO JORNALÍSTICO


A função do jornal é basicamente a comunicação. É um dos meios mais rápidos de ficarmos informados a respeito do que acontece no mundo. Dentro do jornal há várias seções, que por sua vez, abrigam vários tipos de texto. Há algumas características que são comuns a todos estes textos, enquanto há outras que servem para individualizá-los.
A nomenclatura dos textos normalmente é dada de acordo com as suas características e seus objetivos específicos de comunicação. Genericamente chamamos os textos que se apresentam nos jornais de “matéria”. Normalmente esses textos têm caráter informativo. As informações são apresentadas em ordem decrescente de importância ou relevância, seguindo, assim, uma técnica chamada de pirâmide invertida. Ou seja, a base do texto (conteúdo mais importante) fica em cima e o ápice (conteúdo mais superficial) embaixo.
O primeiro parágrafo do texto é chamado de “lide” ou “lead” (inglês) e carrega o conteúdo mais denso da matéria, as principais informações. Esse recurso é usado para que as pessoas possam ter acesso fácil e rápido à informação e tenham a oportunidade de selecionar as matérias que realmente lhes interessam para prosseguir com a leitura. Geralmente o título da matéria é baseado no lide.
Vejamos alguns dos mais característicos tipos de textos jornalísticos e suas principais características:

Notícia: Caracteriza-se pela linguagem direta e formal. Tem caráter informativo e é escrito de forma impessoal, frequentemente fazendo uso da terceira pessoa. Inicia-se com o lide e se segue com o corpo da notícia. Enquanto na primeira parte estão registradas as principais informações do fato, no corpo do texto estão presentes os detalhes (relevantes ou não), as causas e as consequências dos fatos, como, onde e com quem aconteceu, e a sua possível repercussão na vida das pessoas que estão lendo. Pode ter ou não um público alvo (jovens, políticos, idosos, famílias), caso tenha a linguagem poderá ser adaptada para o melhor entendimento.

Editorial: Não é exatamente um tipo de texto, mas uma seção do jornal que possui textos selecionados e agrupados através de seu conteúdo, público ou objetivo. Os jornais são divididos em vários editoriais que podem ou não estar encadernados separadamente. Entre os editoriais mais comuns estão: Política, Economia, Cultura, Esporte, Turismo, País, Cidade, Classificados, Coluna Social, etc.

Reportagem: Tem por essência a descrição e caracterização de eventos. Para isso, a reportagem conta com algumas perguntas que, ao serem respondidas, formarão a estrutura da reportagem. Em Inglês chamamos as perguntas a seguir de WH Questions, e elas servem para melhor estruturar a reportagem: O quê?, Como?, Quando?, Onde?, Porquê?, Quem?.
Nota: Texto curto composto apenas pelo lide. Normalmente trata de algum assunto de fácil compreensão e assimilação e que seja do interesse do leitor. Algo que já tenha sido noticiado ou que não possui detalhes relevantes para serem descritos.

Além desses, há outros cuja estrutura é mais complexa e a ocorrência vai além-jornal, como a crônica, o artigo, etc.

Normalmente, o processo de produção de um texto jornalístico se divide em quatro fases: a pauta (escolha do assunto), a apuração (verificação dos fatos e de provas), a redação (organização das idéias transformando-as em texto) e a edição (locação desses textos no jornal, correção e revisão dos mesmos).

RESPONDA AS SEGUINTES PERGUNTAS:

1) Qual é a função do jornal?

2) Genericamente, como se chamam os diferentes tipos de texto que fazem parte de um jornal?

3) Como são dispostas as informações numa matéria de jornal?

4) O que é "lead"? Para que esse recurso é empregado?

5) O que são os editoriais?

6) Quais são as perguntas que norteiam o trabalho do jornalista que vá escrever uma reportagem? Por que essas perguntas são importantes nesse processo?

7) Nomeie e explique as fases de produção de um texto jornalístico.